Minha mãe sutilmente deixou as chaves do carro no balcão,
mas de jeito nenhum eu vou sentar atrás de um volante de novo.
Eu tento evitar olhar todas as lojas que me lembram Kim. O
restaurante de comida chinesa onde sempre comprávamos
comida nos fins de semana − Sam devorava todo o lo mein. A
cafeteria onde Kim comprava seu café com leite de aveia que
custava sete dólares, insistindo que era “melhor que leite de
verdade”. O salão de beleza da esquina onde ela fazia luzes
enquanto eu e Sam assistíamos futebol nos nossos celulares na
sala de espera.
Então mantenho os olhos nos meus pés até chegar às portas
automáticas da mercearia, que se abrem com uma rajada de ar
fresco. Eu pego um carrinho para tirar um pouco da pressão da
minha perna e vagueio pelos corredores para comprar o
essencial, beliscando os Cebolitos do enorme pacote que peguei
na entrada.
Leite, ovos, pão. Eu acrescento alguns pacotes de pizza rolls
congelados, minhas minipizzas preferidas, porque minha mãe
não especificou o que contava exatamente como uma refeição e
eu tenho um microondas no porão por um motivo.
E esse motivo são os pizza rolls.
O sol está começando a se pôr quando faço o caminho de
volta para casa com minhas duas sacolas, o céu ficando laranja e
rosa, lentamente dando lugar a um azul profundo. Devo ter ficado
lá dentro bem mais tempo do que pensei.
O som de trovões enche meus ouvidos, alto, constante e
retumbante. Eu hesito por um segundo, repentinamente voltando
à tempestade daquela noite, mas então eu olho para o lado e
vejo o estádio de futebol do Colégio Ambrose iluminado, o
estacionamento cheio de carros.
Tambores. Não trovões.
Gritos ecoam das arquibancadas, quase se sobrepondo ao
rufar constante da banda. É sexta à noite, um dos primeiros jogos
de futebol do ano está acontecendo. Eu me pego enfiando as
sacolas embaixo do braço e desviando do caminho, as luzes e os
gritos me atraindo para a multidão e para um dos bancos de
metal gelado.
car0l
(CAR0L)
#1