Se virar e não me ver ali. Eu engulo em seco, as palavras
dela ecoando na minha cabeça. Elas ainda doem, mas é uma dor
mais suave do que aquela com a qual eu me acostumei.
E isso não é sobre a minha dor.
— Eu teria te dado o tempo que você quisesse. Eu teria... Eu
teria deixado você dirigir — eu digo com uma risada áspera. —
Você com certeza teria rido disso — continuo, quase escutando o
som, vindo de algum lugar fora do meu campo de visão. Quase.
Abro a boca novamente, querendo dizer tanta coisa, mas os
pensamentos viram um emaranhado de palavras e tristeza, uma
bagunça geral sem sentido. Eu aperto as minhas mãos contra a
lápide com mais força, tudo aumentando e aumentando até meu
cérebro ferrado finalmente explodir. Uma dor aguda e penetrante
atravessa a minha têmpora e pequenos flashes de luz irradiam
para dentro vindos do canto do meu olho.
Puta merda.
— Era uma vez um menino... — diz uma voz atrás de mim,
com palavras suaves e delicadas o suficiente para fazer um
arrepio subir pelo meu braço.
De início, encoberto pela neblina da dor, eu acho que é Kim.
Outra alucinação. Mas a voz não é a dela.
Eu me viro rapidamente, esperando ver alguém, mas só
encontro as árvores farfalhantes. Minha visão embaça, depois
clareia. A dor pulsa atrás dos meus olhos, então eu os fecho com
força, esfregando minhas têmporas até que a dor enfraqueça o
suficiente para que eu enfie a mão no bolso e puxe uma
embalagem de Tylenol.
Eu luto contra o lacre de segurança da embalagem antes de
finalmente conseguir libertar dois comprimidos na palma da
minha mão e engoli-los a seco.
Mas a voz não se foi.
— Ele estava triste e sozinho — ela ecoa atrás de mim.
Dessa vez, quando eu me viro, minha mente está límpida o
suficiente para eu ver uma garota com um suéter amarelo-sol a
alguns passos de mim, perto do mar de flores cor-de-rosa. Seu
cabelo é comprido, castanho e ondulado e parece balançar
suavemente, no mesmo ritmo das árvores atrás dela.
car0l
(CAR0L)
#1