tória dos fungos e da micologia. Em função de sua forma mi-
croscópica, na maioria das vezes, não eram conhecidos como
hoje, a não ser quando expressavam sua presença por meio dos
corpos de frutificação macroscópicos, tais como os cogumelos
e as orelhas de pau. Por este motivo, estas estruturas, que nada
mais são que frutificações dos fungos, eram utilizadas por dife-
rentes culturas como alimento, medicamentos, rituais “religio-
sos”, assim como alucinógenos (5).
De forma didática, sugerem-se três a quatro períodos
básicos, nos quais a fitopatologia poderia ser enquadrada, sendo
o mais antigo o período Místico, seguidos pelo período de Predis-
posição e, posteriormente, pelo período Etiológico (6). Em cada um
deles, avanços no conhecimento sobre os fungos e o desenvolvi-
mento da humanidade puderam ser expressos nos vários ramos
do saber, influenciando de forma marcante a arte, a política, a
medicina, a agricultura e as ciências, de uma forma geral.
O período Místico, por volta de 750 a.C. até início do
século XIX, foi aquele onde se atribuíam às doenças em plantas,
castigos divinos de deuses ou de Deus aos homens, traduzidos
na forma de pragas e doenças que assolavam as plantações
e, consequentemente, toda a população. Alguns destes relatos
podem ser lidos no Antigo testamento, como dito pelo profeta
Amós:
“Feri-vos com queimadura, e com ferrugem; a multidão
das vossas hortas, e das vossas vinhas, e das vossas figueiras,
e das vossas oliveiras, comeu a locusta; contudo não vos con-
vertestes a mim, disse o Senhor” (7).
Na antiga Roma ocorriam inúmeras festas, dentre elas
a Robigália, na qual eram sacrificados cães, vacas e outros
animais de pelagem avermelhada, como oferendas a Robigus
e Robigo, um casal de divindades que se acreditavam serem
deuses que poderiam livrar as plantações da ferrugem do trigo
(8), doença causada por fungos, que produziam pústulas con-
tendo esporos de coloração alaranjada e, quando ocorriam nas
lavouras de cereais, diminuía ou inviabilizava as colheitas e a
produção de grãos.
Embora a visão neste período tenha sido mística, o en-
tendimento naquela época era pautado na teoria da geração
espontânea e da perpetuidade das espécies apoiada pelo bo-
tânico, zoólogo e médico Carl von Linné ou Carolus Lineaeus,
conhecido por nós como Lineu, apaixonado pela ordenação das
espécies que acabou propondo seu sistema de classificação
e nomenclatura binomial. Esta proposta reuniu e agrupou os
seres vivos, dando um único nome válido, universal, para cada
espécie de ser vivo, o nome científico, composto por Gênero e
Espécie.
Mesmo assim, diversas idéias a respeito dos fungos em
plantas eram especuladas e discutidas, inclusive por estudiosos que
atribuíam a alguns fungos as doenças dos cereais, naquela época.
Em meio às turbulências que afloravam no meio cien-
tífico, em virtude das novas descobertas, o período de Predis-
posição foi marcado por um processo de transição, curto e
de grande importância para a micologia. Passou-se, porém, a
associar a presença de fungos como consequência das doen-
ças, ou seja, a constatação frequente de fungos nas lesões em
plantas doentes. Assim, a partir do início do século XIX, até por
volta de 1853, houve um aumento considerável do interesse dos
botânicos e dos micologistas por estas associações, proporcio-
nando uma expansão dos trabalhos de catalogação publicados
sobre fungos. No entanto, ainda se acreditava que em função de
debilidades nutricionais ou fatores ambientais, as quais os ve-
getais estavam submetidos, os fungos apareciam nas plantas
por geração espontânea.
Por fim, a partir de 1853 o período Etiológico, como o
próprio nome diz, foi aquele cuja origem das doenças foi atri-
buída, finalmente, aos microrganismos, dentre eles os fungos.
Num dos primeiros trabalhos publicados com tal descoberta,
Heinrich Anton de Bary, comprovou que Phytophthora infestans,
um fungo, naquela época, era o causador da requeima da batata
(9), doença devastadora de plantações até os dias de hoje. Este
microrganismo passou a ser classificado no Reino Chromista (5)
e não no Reino Fungi.
Neste período etiológico, também coincidiram os tra-
balhos pioneiros de Louis Pasteur, em 1860, sobre a origem bac-
teriana de doenças em homens e animais, derrubando a teoria
da geração espontânea. O estabelecimento dos Postulados de
Koch, por Heinrich Hermann Robert Koch, em 1881, possibilitou
o uso de um protocolo para determinar se um microrganismo
específico poderia ser considerado um agente patogênico.
Períodos subsequentes continuarão a ser definidos
daqui para frente, tais como o período Ecológico e o Biotecno-
lógico propostos para a era contemporânea (10), e a história dos
fungos entre nós poderá ser mais bem definida e entendida no
futuro.
Inúmeros fatos e eventos que construíram a intimidade
entre homens e fungos marcaram de forma acentuada essa rela-
ção, seja direta ou indiretamente, fazendo com que nossa atenção
se voltasse cada vez mais para o conhecimento, entendimento,
utilização e controle dos fungos e, dentre estes eventos podemos
citar alguns exemplos, em ordem cronológica, que seguem:
As Ferrugens dos cereais que ocorreram na Europa na
idade antiga, ocasionado pelo fungo Puccinia, e outros.