Restinga Paralela = Parallel Restinga

(Vicente Mussi-Dias) #1

pela ciência até o momento, precisamos desenvolver variadas
formas de agrupá-los, preservá-los e utilizá-los, devido à essa
grande diversidade encontrada, principalmente nos países tropi-
cais como o Brasil que detém uma das maiores biodiversidades
do planeta e que nos chama a atenção para àquelas espécies
desconhecidas e com provável potencial de utilização.


Então, pensamos: como em uma Ilha de Vera Cruz, Terra
de Santa Cruz, num Brasil tão gigante, tropical e de infinita biodi-
versidade, poucas são as informações a respeito dos fungos no
seu passado? Ou ao menos daqueles que afloram e saltam aos
olhos em ambientes úmidos das matas e dos campos?


Uma das explicações poderia ser que não tendo os
portugueses hábitos micófilos, os fungos não despertavam in-
teresse para exploração à época do descobrimento do Brasil e
grande parte de coleções botânicas feitas pelos colonizadores
acham-se em universidades estrangeiras. Muito temos a fazer
para resgatarmos a história da micologia brasileira e o trabalho
dos historiadores é de fundamental importância para traçarmos
uma identidade fidedigna do que existia aqui em épocas passa-
das. Nos livros, diários, mapas, ilustrações e pinturas nós, com
certeza, sempre encontramos riqueza de expressão que, inevi-
tavelmente podem constituir-se em vitrines para o presente. A
maioria das ilustrações botânicas são, sem dúvida alguma, obras
de arte feitas por artistas naturalistas. Praticamente, todas as re-
tratações de plantas individuais, arbustos, folhagens e da selva,
eram feitas com tal grau de perfeccionismo que não vemos indi-
cação da presença de fungos incidindo sobre as folhas, flores ou
frutos. É provável que as espécies vegetais naquela época tam-
bém apresentassem doenças e seus sintomas comuns. Estas
observações ocasionalmente retratadas pelos artistas de então,
poderiam constituir rica fonte de informação acerca das associa-
ções entre fungos e plantas, uma vez que a maioria dos fungos,
por si só são invisíveis ao olho humano.


Poucas são as publicações reconhecendo fungos no pas-
sado. Guilielmi Pisonis, cita e ilustra algumas espécies brasileiras
de cogumelos em 1648 e 1658 e, a primeira coleta realizada no
Brasil, ou a mais antiga que se tem registrado foi feita em 1767,
perto do Rio de Janeiro, cidade de São Sebastião, pelo francês
Philibert Commerson que obteve um exemplar do fungo Pycno-
porus sanguineus, hoje depositado no Museu de História Natural
de Paris, França (14).


De 1500 até por volta de 1750, as grandes viagens eram
realizadas por aventureiros, mercenários (15) e amantes das ciên-
cias naturais (16) ou a mando de reis do velho mundo para con-
quista, posse de terras e estabelecimento das cidades no Bra-
sil (17). Destas viagens, vasta bibliografia foi gerada na forma de
diários de bordo, livros riquíssimos e principalmente cartas, nas
quais as informações da “Nova Terra” podiam ser vislumbradas e


almejadas pelas metrópoles.

Embora sejam escassos os registros micológicos, há o
reconhecimento de uma agricultura desenvolvida e organizada
há pelo menos 10.000 anos (18), constituindo-se numa fonte ines-
gotável para conjecturas e pesquisas de resgate da história da
associação constante entre fungos e plantas.

Acredita-se que mais informações, frutos de explora-
ções bibliográficas, podem inicialmente ser supridas por traba-
lhos que investiguem, de forma sistemática, os registros e do-
cumentos “públicos” que expressem vínculos entre a descoberta
da “Nova Terra” por Portugal em 1500 até a queda do Império e
o estabelecimento da República no Brasil, em 1889. O acesso às
bibliotecas, mosteiros, seminários, colégios e qualquer remanes-
cente da “Companhia de Jesus” poderiam servir como um ponto
de partida. Os jesuítas, fundadores dessa ordem, foram impor-
tantes detentores do remanescente da nossa cultura micológica,
uma vez que permaneceram como mentores da educação brasi-
leira durante 210 anos, até serem expulsos em 1759, ocasião em
que tinham cerca de 25 residências, 36 missões e 17 colégios e
seminários, além de estabelecimentos menores e escolas de pri-
meiras letras, instaladas em todas as cidades onde havia casas
da Companhia de Jesus (19).

Nessa mesma época, em 1755, um terremoto, seguido
de maremoto e incêndio, atingiu Lisboa, levando à ruína igrejas,
casas, palácios reais, mercados, edifícios públicos, teatros e a
famosa Biblioteca Real, com 70.000 volumes, construída desde
o século XIV, que virou cinza e teve de ser inteiramente refeita
(20). Esta mesma biblioteca, assim como as instituições culturais
portuguesas, ricas fontes de depósito de material literário pro-
veniente do Brasil, foram saqueadas com a invasão das tropas
de Napoleão em 1808 e com a fuga da família real para o Brasil,
em 1807. Os milhares de livros desta biblioteca ficaram esque-
cidos no cais de Belém em Lisboa, os quais foram devolvidos
posteriormente (21; 22).

Dentre esses e outros fatos, envolvendo principalmen-
te os exploradores franceses, holandeses e espanhóis, valiosas
fontes de referências de material investigativo para a área da mi-
cologia podem ter sido perdidas desde o descobrimento do Bra-
sil.

Parece-nos um tanto prematuro, utilizar apenas alguns
dados para inferir sobre a história e origem desta ciência num
Brasil tão antigo. Consideramos que diante das investigações
realizadas falta-nos identificar uma origem para tal fato.

Em 1565, com localização privilegiada entre as Capita-
nias Hereditárias de São Tomé e São Vicente, foi fundada a cida-
de do Rio de Janeiro, constituindo-se por conquista, a Capitania
Real do Rio de Janeiro.
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