Paulista, Pires, Jagroaba, Ubataba, bem como o Campo dos Sa-
bões. Na restinga norte, entre o cabo de São Tomé e Mangui-
nhos, pode-se visualizar toda a complexa rede de defluentes da
lagoa Feia convergindo para o rio Iguaçu (atual lagoa do Açu),
as lagoas de Quivary (Iquipari), de Arasari (Grussaí), Taí Grande
e Taí Pequeno, Jacaré, Bananeiras e, na margem esquerda do
Paraíba do Sul, a grande lagoa do Campelo.
O primeiro vice-rei do Brasil a redigir um relatório de
atividades para prestar contas ao sucessor foi o Marquês de
Lavradio. Ao passar o governo da colônia do Brasil a Luiz de
Vasconcellos e Sousa, em 1779, Lavradio anexa ao relatório
uma relação formada com informações colhidas de seus repre-
sentantes junto às diversas divisões administrativas da colônia,
dando conta de aspectos econômicos e políticos. No que toca
ao norte fluminense, há informações substanciosas sobre a
planície aluvial e sobre os tabuleiros adjacentes. Pouco se fala
sobre as áreas de restinga, não talvez por desconhecimento
mas pelo cunho eminentemente econômico do relatório. Sobre
as partes mais afastadas dos tabuleiros e da serra, as informa-
ções são bastante vagas pelos critérios da época. As restingas
entram na medida em que nelas se situam portos por onde se
escoa a produção do Distrito dos Campos Goaitacás. Merece
destaque o núcleo de Macaé, onde se achava “um princípio de
Povoação com esperança de se fazer maior”. Junto à foz do rio
Macaé, erguia-se o porto da Povoa, no qual não podiam atra-
car “senão Lanchas, que demandem oito palmos d’água”, sendo
que, “ao pé da barra tem uma enseada, onde podem carregar
corvetas, e é aonde acabam de carregar algumas embarcações
maiores, e que demandam mais água.” O outro porto da região
localizava-se na vila de São João da Barra, onde deságua o rio
Paraíba do Sul, em área de restinga. Esclarece a relação que
ele só comportava embarcações que necessitavam de menos
de 12 palmos de água. Estas, no entanto, chegavam até a vila
de São Salvador (atual Campos dos Goytacazes), oito léguas a
montante da foz do rio Paraíba do Sul. Por fim, o documento ob-
serva que o Sertão das Cacimbas apresentava baixo cultivo por
não serem boas as terras, mas que apresentava-se muito rica
em madeiras, escoadas por canoas(18,19,22). Pelo conhecimento
que hoje se tem do referido sertão, sabe-se que ele se localizava
entre a restinga e o tabuleiro, provindo as madeiras mais desta
segunda unidade geológica que da primeira.
O mais atento observador da região norte fluminense
no período colonial foi o capitão cartógrafo Manoel Martins do
Couto Reis. Designado para traçar um mapa da parte norte da
Capitania do Rio de Janeiro pelo vice-rei Luiz de Vasconcellos
e Souza, ele redigiu também uma minuciosa descrição do ter-
ritório que desenhou, entregue à autoridade maior da colônia
em 1785. Já em 1779, o Marquês de Lavradio fora mordaz com
os geógrafos, segundo quem aqueles que “tem sido encarre-
gados desta diligência, consta-me que sempre se governaram
mais por informações, que por exames pessoais; e daqui vem a
diferença com que eles falam, e o de não poder dar toda a fé a
estes mapas.”(18). O vice-rei do Brasil era um típico déspota ilus-
trado, procurando informação, precisão e eficiência para melhor
governar. Couto Reis preenche os requisitos exigidos por sua
época, sendo ele também um ilustrado que usava a cartogra-
fia como instrumento de conhecimento e de domínio do espaço
para seu uso racional e para a guerra(20).
Como ninguém até então, o militar percebeu com niti-
dez os degraus geomorfológicos do norte-noroeste fluminen-
se. Identificou primeiro a planície, que ele denominou de cam-
pos, separados entre si por pequenos bosques, rios e pântanos.
Na vasta planura, notou as diferenças de solo entre as terras
formadas por sedimentos fluviais e as areias acumuladas por
ação oceânica. Os campos de Macaé, Juribatiba e Carapebus,
percebeu ele, são areentos, turbados de bosques, pouco aprazí-
veis e menos fecundos. Chamou a atenção para os terrenos que
correm ao longo da costa, ao norte do rio Paraíba do Sul, local
Mapa de Manuel Vieira Leão, de 1767, representando a Capitania do Rio de
Janeiro, aqui retratando apenas o futuro norte fluminense
Map by Manoel Vieira Leão, 1767, showing the Captaincy of Rio de Janeiro, here
depicting only the future northern Fluminense region