Restinga Paralela = Parallel Restinga

(Vicente Mussi-Dias) #1

das lagoas da praia de Paulistas e, principalmente, pela aber-
tura das barras. Além do mais, o calor do sol refletido nas areias
brancas tornava o caminho insuportável(28). Os relatos de Muniz
de Souza e de Bellegarde mostram que a virgindade da área do
atual Parque Nacional de Jurubatiba foi, outrora, consideravel-
mente conspurcada com fins econômicos e bastante percorrida
por viajantes.


Em rápida passagem pela restinga norte, vindo do Espí-
rito Santo, o barão suíço J. J. Tschudi fez breves apontamentos
sobre as “dunas estéreis da praia”, reforçando mais ainda a vi-
são das restingas como terras ermas e imprestáveis, no con-
fronto com a planície aluvial, com o tabuleiro e com a serra(29).


Na segunda metade do século XIX, o geólogo canadense
Charles Frederick Hartt intenta uma descrição geomorfológica
das diversas formações do Brasil, dividindo sua investigação
por províncias. Nota ele que:


Ao norte de Macaé as planícies terciá-
rias se afastam prontamente do litoral,
correndo em direção a Campos, no Rio
Paraíba do Sul, sendo chatas as terras
que margeiam a costa, mais ou menos
alagadiças, e entremeadas de numero-
sas lagoas rasas, algumas de conside-
rável extensão(30).

Faz menção à predominância do vento nordeste, na cos-
ta norte fluminense, e ao perigo do Cabo de São Tomé para a
navegação. Manifestando certa confusão para os conhecimen-
tos da época, Hartt faz o rio Macaé desembocar na lagoa Feia.
Refere-se também a várias lagoas, entre elas a do Açu, ainda
conhecida por rio Iguaçu, a do Campelo e a várias outras pela
margem esquerda do rio Paraíba do Sul, em direção à praia de
Guaxindiba. Mais adiante, o cientista anota uma configuração
ligada ao rio Itabapoana que se julgava atual. Trata-se de um
canal estreito e raso ou lagoa, nas palavras de Hartt, que nasce
no rio Itabapoana e deriva para o sul da costa, passando por
trás da crista da praia, onde se desenvolve um manguezal(30).


Uma das mais eloquentes fontes sobre as restingas, no
século XIX, é representada pela cartografia. Em 1839, Conrado
Jacob de Niemeyer, Henrique Luiz de Niemeyer Bellegarde, Ju-
lio Frederico Koeler e Carlos Rivierre somavam esforços para
reunir as informações colhidas por eles mesmos e outras for-
necidas por Roussin, Miranda e Brito, Xavier de Brito, de An-
drea, Cordeiro e Couto Reis, a fim de que o engenheiro Pedro
de Taulois traçasse a Carta Corográfica da Província do Rio


de Janeiro. Pode-se nela encontrar assinaladas várias lagoas
costeiras entre Macaé e Barra do Furado, como Comprida, Ge-
ribatiba (Jurubatiba), Carapebus, do Campelo e do Sul (atual da
Ribeira, na época, ligada diretamente à Feia). Entre o cabo de
São Tomé e a praia de Manguinhos, registravam os cartógrafos
as lagoas Salgada, Bananeiras, Grussaí e do Campelo. Como na
carta de Couto Reis, de 1785, surpreende-se com uma configu-
ração geográfica bastante diferente da atual. Entre a planície
aluvial e a restinga norte, por exemplo, havia um curso d’água
que nascia no rio Paraíba e corria para o rio Iguaçu, avolumando
suas águas juntamente com os cinco defluentes da lagoa Feia,
já mencionados, e criando condições para a abertura perma-
nente ou semipermanente da barra do Açu. Era o antigo rio doce
um outro cordão de lagoas interligadas por canais corria mais
para o interior, confluindo para o antigo canal do Cula ou Córre-
go Grande, assinalado por Couto Reis, para defluir também na
bacia do Iguaçu(31).

Certamente aproveitando-se dessa base cartográfica, o
Visconde J. de Villiers de L’Ile Adam publicou, em 1846, a Carta
Corográfica e Administrativa da Província do Rio de Janeiro e
do Município Neutro. As semelhanças com a carta de 1839 são
flagrantes, mas essa acrescenta novos detalhes, sendo um dos
mais conspícuos o inacabado canal Campos-Macaé. Além das
lagoas Comprida, Geribatiba, Carapebus e Campelo, na restin-
ga sul, o autor faz figurar o vasto campo de Jaguaraba, ao sul
da lagoa Feia e do seu então braço perpendicular chamado à
época de lagoa do Sul. Na restinga norte, aparecem as lagoas
Salgada, Bananeiras, do Taim Grande, de Urucai (Grussaí), de
Campobelo (certamente do Campelo, mas confundindo-a com
outra) além de várias mais não nomeadas. Como na carta an-
terior, o rio Guaxindiba merece um destaque especial, assinala-
dos também os dois cordões de lagoas interligados por canais
a confluir para a bacia do rio Iguaçu(32).

Bellegarde e Niemeyer voltam à cena em 1865, com a
Nova Carta Corográfica da Província do Rio de Janeiro, bem mais
detalhada que a de 1839. Abaixo de Macaé, figura a lagoa de Im-
boacica e, entre essa cidade e Furado, aparecem as lagoas cos-
teiras de Jurubatiba, de Carapebus, do Paulista, de Jaguareaba
e da Ribeira (denominada “braço da Lagoa Feia”). Além dessas,
outras aparecem sem nome. O canal Campos-Macaé figura bem
nítido em toda a sua extensão. Na restinga norte, a represen-
tação do rio Iguaçu revela-se vigorosa, como um curso d’água
bastante volumoso no qual desembocam os rios da Onça, Novo
do Colégio, do Castanhete e do Furado, todos eles nascendo na
lagoa Feia.

Acima da barra do rio Açu ou Iguaçu, está assinalado o rio
do Veiga, paralelo à linha de costa, como que vertendo no sentido
norte-sul, em direção à foz do Açu. No mesmo sentido, sugerindo
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