COMBO SAUDE - VOLUME 1

(O LIVREIRO) #1

Outra vez o passado visita o presente nos assun-^


tos do fígado. Hábitos milenares dos povos que vi-
vem às margens do Mar Mediterrâneo são especial-
mente aclamados no controle da esteatose hepática.
A chamada dieta mediterrânea aparece na revisão
da Nutrients e também é destaque em um novo tra-
balho da Universidade de Sevilha, na Espanha, re-
cém-publicado no periódico da Associação Interna-
cional para o Estudo do Fígado. Considerado um
patrimônio imaterial da humanidade pela Unesco,
esse cardápio contempla cultura, ambiente, ativida-
de física e, claro, comida, numa mistura de qualida-
de nutricional e muito prazer à mesa.
Nenhum ingrediente fica de fora desse menu. Há
espaço para carboidratos, vindos especialmente dos
grãos, mas também fornecidos por massas e pães ca-
seiros no dia a dia. O azeite de oliva é uma estrela,
trazendo gordura da melhor espécie. Pescados pre-
enchem a lacuna das fontes de proteína. Frutas e
hortaliças variadas enriquecem e colorem o prato.
Acrescentemos, ainda, boas doses de atividade física
— lá, ninguém fica parado. Fora as boas escolhas à
mesa, sobram evidências de que abolir o sedentaris-
mo da rotina dá um chega pra lá no excesso de gor-
dura pelo corpo, inclusive no fígado.
Outra dieta mencionada no estudo espanhol é a
Dash, sigla para Dietary Approaches to Stop Hyper-
tension, ou, traduzindo, dieta para combater a hiper-
tensão. Ela foi criada há mais de 20 anos por pesqui-
sadores americanos com o objetivo original de
ajudar no controle da pressão arterial. Mas segue
surpreendendo por outros efeitos no organismo. A
Dash já se mostrou capaz de facilitar a perda de
peso, auxiliar no controle dos níveis de insulina e gli-
cose no sangue e colaborar na manutenção das taxas
de colesterol — um combo particularmente bem-


  • vindo às artérias. Essa atuação conjunta também
    diminui o risco de desequilíbrios metabólicos por
    trás do estoque exagerado de gordura nas células he-
    páticas. A receita da Dash é bem parecida com a da
    mediterrânea: pegue uma porção de cereais inte-
    grais, adicione frutas, verduras, legumes, castanhas,
    carnes e laticínios magros e distribua pelas refeições,
    moderando no sal e no açúcar.
    Ainda que esses dois modelos dietéticos tenham
    origem no Hemisfério Norte, não é necessário ca-
    çar ingredientes gringos para compor o prato ami-
    go do fígado. “A sugestão é explorar a variedade e a
    beleza dos alimentos brasileiros”, recomenda o


CARBOIDRATO NO DEVIDO LUGAR
Sem ele, sobra desânimo. Especialistas recomendam
priorizar o tipo complexo, que demora a ser convertido
em glicose, evitando picos de insulina. Assim, resguarda
não só o fígado, mas pâncreas, artérias e afins. Suas
fontes - tubérculos, raízes, frutas, cereais, grãos, massas
e pães integrais - devem entrar em todas as refeições,
na medida certa. A nutricionista Renata Juliana da Silva,
coordenadora do curso Nutrição e Dietética Integrada
ao Ensino Médio - Etec Uirapuru, em São Paulo, destaca
a presença de fibras nesses alimentos e seus impactos
positivos nos teores de moléculas gordurosas no sangue e
no aumento da saciedade. “Esses efeitos contribuem para
a redução de risco e tratamento de doenças crônicas", diz.

Atenção ao açúcar!
Vários estudos mostram que o consumo desenfreado do
açúcar que entra na fórmula de refrigerantes e bebidas
adoçadas, por exemplo, induz ã estocagem de gordura
no fígado. Não ã toa, adolescentes e crianças, fãs desses
produtos, não estão livres da esteatose hepática.

GORDURA CERTA NO PRATO


O macete é apostar nos melhores tipos para a saúde.
A trans dos industrializados deve ser evitada a todo
custo. As saturadas, que aparecem nas carnes e
nos lácteos, pedem parcimônia, porque o exagero
desencadeia inflamações e favorece o ganho de peso.
Já as monoinsaturadas, que estão no azeite de oliva,
abacate, gergelim e amendoim, são celebradas por
colaborar no equilíbrio do colesterol. Outro grupo de
gorduras prestigiado é o das poli-insaturadas. A mais
estudada entre elas é o ómega-3. Pescados de águas
profundas, como sardinha, atum, salmão e cavalinho,
são seus grandes fornecedores.

Pequena notável
Para quem prefere os vegetais, o ómega-3 surge em
sementes como chia e linhaça. Inclusive, a última jã se
mostrou eficiente no combate à esteatose hepática. “A
sinergia de suas substâncias tem ação anti-inflamatória
e ajuda a reduzir os triglicérides”, explica a nutricionista e
fitoterapeuta Vanderli Marchiori, de São Paulo.

(^38) VEJA SAÚDE SETEMBRO 2020

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