EBOOK-TEMPO-DE-VOAR (1)

(MARINA MARINO) #1

excentricidades. E só depois vem você, a lanterninha, a
quem nada mais resta senão recolher o monturo do nosso
festim.


Ah! não sabe como isso fez bem a nós três!
Até nunca mais.
peste, guerra, fome

A morte lia e relia a mensagem. E a cada nova
leitura, mais estarrecida ficava. Não podia acreditar, nem
mesmo conceber, que seus amigos mais íntimos
ousassem traí-la, e por meio de tamanho desprezo! No
entanto, os cheiros da deslealdade e do escárnio, que
deles tão bem conhecia, ainda remanesciam por entre as
linhas, e não deixavam dúvidas sobre a veracidade do
conteúdo, bem como sobre a autenticidade das
assinaturas.


E amassava o papelzinho; e cerrava os olhos; e
tremia de desespero e de ódio.


Pela primeira vez desde o seu surgimento, a morte
sentia-se como se lhe tivessem tirado o chão,
precipitando-se mais e mais em um buraco escuro e sem
volta. E como jamais padecesse do fel da traição ou do
azedume do desdém, ela não tinha sequer parâmetros
para pensar em como reagir, o que impunha uma
sensação de total impotência e absoluta aflição.


A pouco e pouco a morte foi recobrando o prumo. E
a primeira vontade que teve foi a de extravasar a sua

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