EBOOK-TEMPO-DE-VOAR (1)

(MARINA MARINO) #1

  • É, meu velho, você e eu corremos o mundo!...
    Ainda hoje me lembro de quando você era pequenino. E
    de quanto trabalho me deu para domá-lo! Bem mais que
    Bucéfalo aos melhores cavaleiros, antes que Alexandre
    da Macedônia o amansasse. Pois é, quantos defuntos
    jazeram sob suas patas, hein? Ah, bons tempos!... Tem
    saudade, não tem? – e acariciava o seu pescoço.

  • Pois agora, o momento é de dizer adeus. Ah! não
    ouse chorar, pois sei que isso é impossível; nem olhos
    você tem! E também deixe de lambidas, que bem sei o
    quão aspérrima e hiperinfecciosa é a sua língua. Pois vá,
    galope para onde quiser, e não se esqueça de se oferecer
    aos carrapatos. Sei o quanto eles fazem bem ao seu
    sangue.


E retirava a sela; e batia em seu lombo.
Ao ver a montaria em disparada, a morte ainda se
lembrou do último recado:



  • E vê se arruma alguma besta por aí! Adoraria ser
    “avô”.


Quando entrou no cassino, a morte sentiu-se
remoçada. O vaivém das pessoas, frenético, glamouroso,
era pura adrenalina a estimular as suas paixões. O tilintar
das moedas e das fichas ecoava em seu crânio e fazia as
vezes de anfetaminas infernais. E a prodigalidade dos
novos-ricos, fluida, suicida, enchia o seu peito e a fazia
sorrir. Mas, sem nenhuma dúvida, o que mais a deleitava

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