EBOOK-TEMPO-DE-VOAR (1)

(MARINA MARINO) #1

resto de areia finíssima que passava do vaso superior
para o inferior, deixava que aquelas duas senhoras
prosseguissem.


Neste instante, a acuidade auditiva da morte ,
sensibilidade com que sempre se diferenciara, pôde
distinguir ao longe um som familiar. E quanto mais o
tropel se aproximava do cassino, mais excitada ficava, o
que produzia em derredor, e à sua revelia, um fedor
nauseante, típico dos momentos de maior glória.



  • Ora, ora... Mas que feliz coincidência! Acho mesmo
    que a sorte resolveu sorrir para mim.


Em alguns instantes adentravam a peste , a guerra e a
fome , cheias de si e ávidas por se divertirem à custa do
maior estrago possível.


Sim, o acaso impunha um reencontro. E a morte o
reverenciava.



  • Um momento! – disse a fome , detendo os demais –
    Esse cheiro?...

  • Mas que coisa, fome! Mal entramos e a primeira
    coisa que ouvimos é o seu ego? Espera pelo menos
    passarem os garçons.

  • Não é nada disso! – retrucou a fome – Vocês não
    estão sentindo o fedor? Como se houvesse entre nós
    cadáveres em decomposição.

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