a encarnação do privilégio e da opressão, mesmo que seja motorista de
táxi ou pedreiro e que não tenha dinheiro para comprar a cesta básica.
O Brasil parece preso a duas possibilidades nas eleições de 2022: Lula e
Bolsonaro. Essa dualidade tem alguma relação com as narrativas
históricas que vingaram no país?
Na minha opinião, não. O fracasso do populismo de esquerda levou ao
populismo de direita. Moralismo rastaquera à parte, Bolsonaro foi eleito
prometendo redenção econômica, segurança pública e o fim da
corrupção. Não fez nada disso. Ele teve e continua tendo uma conduta
criminosa na pandemia do coronavírus. Bolsonaro foi o grande aliado da
peste. Agora, o fracasso do populismo de direita pode nos reconduzir ao
populismo de esquerda. Mas a verdade é que tudo tem muito pouco de
ideologia. O Bolsa Família tinha colocado a população nordestina no colo
de Lula. Quando veio o auxílio emergencial da Covid, essa população
migrou para o colo de Bolsonaro. Então, viu-se que era bobagem tratar as
coisas ideologicamente. A maioria do eleitorado nordestino não é de
direita, nem de esquerda — é subornável.
Alguma narrativa histórica está sendo deixada de lado?