Crusoé - Edição 180 (2021-10-08)

(Antfer) #1

de Luanda. Certa vez, uma socialite negra de Chicago disse ao escritor Otis


Graham que tinha tanto a ver com os panteras negras quanto um branco


rico tinha a ver com seu jardineiro. O problema é que a ideologia


identitária se esquece de que existem classes sociais – e assim fica lidando


com entidades metafísicas, como “o negro”. Então, é preciso lembrar que


a África Negra era escravocrata há milênios, que escravos negros eram


enterrados vivos em sacrifício aos deuses etc. Ao cruzar o Atlântico, os


iorubás, que foram vendidos ao Brasil pelos reis do Daomé, não deixaram


de ser escravistas. E sua primeira providência, ao ascender socialmente,


era comprar escravos, dos quais, de resto, se serviam com a mesma


crueldade dos senhores brancos.


Zanone


Fraissat/Folhapress


“Temos de não


nos enganar, de saber muito bem quem somos”


Mas qual seria o sentido de trazer à tona essas coisas?


Não penso que a melhor maneira de lidar com os nossos problemas seja


fazendo de conta que nada disso existiu. Não acredito que a busca de


uma sociedade mais justa precise se alicerçar na falsificação histórica e na


mentira. Pelo contrário: temos de não nos enganar, de saber muito bem


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