AF MULHERES FERIDAS 150x220 V2_bx (2)

(BROOK) #1
Mulheres feridas, nas mãos do Senhor

No fundo os médicos também acreditavam assim. Caminhou
novamente, mas desta vez em direção ao quarto onde estava a
criança, apoiou‑se entre o vão da porta, e por alguns minutos a
observou em silêncio.


Fixando seu olhar naquele corpo tão pequenininho, tomou
coragem e entrou, sentou‑se de frente para Clarice. Vendo que
o seu bebézinho se encontrava tão indefeso no meio de tantos
aparelhos que a mantinham em vida e ela não podia fazer
absolutamente nada para ajudá‑la, a não ser confiar em Deus, mas
aonde estava a sua fé?


Não suportou mais, e chorou! Chorou compulsivamente, e por
um momento, como em um flashback, toda a sua história lhe passou
diante dos olhos. O filme da sua inteira e dolorosa vida.


Recordou‑se de quando era uma criança, sua avó costumava
buscá‑la na escolinha, as duas caminhavam juntas pela linha do
comboio, era uma grande diversão para ela sentir a adrenalina
no sangue, imaginando que a qualquer momento o comboio
pudesse passar e com seu forte apito as faria sair correndo o mais
rápido possível para a outra parte da rua. Naqueles momentos de
diversão, Cecília tentava se equilibrar sobre as trilhas de comboio,
caminhando lentamente, passo após passo, com seus braços
abertos, como se quisesse voar, com seu rosto levantado olhava
para o céu, e sentia a brisa beijar sua face.


Segura de si e confiante, acreditava estar em uma passarela, sua
avó caminhava alguns metros atrás, advertindo‑a dos perigos:



  • Ceci, filha, preste atenção, seja atenciosa e prudente para
    não cair e se machucar!


Mas ela não a ouvia, sentia algo em sua alma que acreditava
fosse “alegria”, e tudo o que Cecília mais desejava naquele momento

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