ELISA-BERNAL-MINHAS-CONVERSAS-COM-ALEGRÍA (1)

(MARINA MARINO) #1

qualquer mãe. Mesmo assim, eu não consegui desprender-me
do medo de perdê-lo.


Outro dia em que eu já estava com Alegría, recordo que víamos
o filme: O Clube dos Poetas Mortos, com o ator Robin William,
onde aparece um rapaz que se parecia muito com Dani
fisicamente, inclusive podiam ter a mesma idade. Naquele
momento, Dani tinha ido passar a noite fora e eu me lembro da
angústia que o filme me causou, com o suicídio daquele jovem,
liguei para ele no celular para perguntar-lhe se estava bem.
Curioso, ele ria enquanto me perguntava: “Mamá, por que me
ligou?”. E eu disse que só queria saber se ele estava bem. Para
mim, era uma inquietude de mãe que se pergunta: “Meu filho,
onde está? Será que está bem?”. Alegría diria que era outra vez o
sentido de posse, minhas loucuras... Mas foi outra vivência em
que voltou a surgir esse medo que havia aninhado em mim,
“meu filho pode morrer, pode desaparecer da minha vida”.


Em efeito, assim ocorreu.


Um dia de fevereiro, como já disse, aconteceu. Ele mesmo se
retirou da vida, sem dar explicações.


Recordo que quando entrei em casa, no quarto onde ele estava
morto, eu senti que já sabia, que sabia que aquilo era parte do
filme. Pude ver o personagem de Elisa separado do observador,
como um desdobramento. Eu me vi fora do corpo do
personagem. E o que via era o personagem de Elisa, que chorava
e gritava, diante do corpo inerte de Dani. Mas, quem observava
aquela terrível cena estava tranquila, não se perturbava, sabia
que isso era parte do filme. Isso também me impressionou. Não
compreendia o que estava ocorrendo com esse desdobramento.
A dor me fez viver também essa experiência.

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