Prato Sujo - Como a indústria manipula os alimentos para viciar você! ( PDFDrive )

(Ruy Abreu) #1

mais certeira de todas, o preço do serviço está subindo. Um estudo da
Universidade da Califórnia constatou que, todo ano, mais de 1 milhão de
colônias de abelhas é importado para esse Estado americano. Se houvesse
insetos nativos cumprindo sua função, a economia gerada seria de US$ 2,4
bilhões para os fazendeiros da região.
Diante desse cenário, a União Europeia está proibindo, a partir do dia 1º de
dezembro de 2013, o uso de três pesticidas especialmente letais para as abelhas,
derivados da nicotina. No Brasil, eles continuam permitidos, porque o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) diz que é preciso
fazer testes adaptados à realidade brasileira. Só que a realidade brasileira é uma
nuvem negra. Segundo o IBGE, o país é o maior consumidor de agrotóxicos do
planeta e responde por 86% do que é vendido na América Latina.
Com o uso dos pesticidas, as pragas vão ficando resistentes, como acontece
com as bactérias expostas a antibióticos. Aí é preciso reforçar a dose para
conseguir o mesmo efeito. Em 2002, era preciso despejar 10,5 litros de veneno
para cada 10 mil metros quadrados. Em 2011, foram necessários mais de 12
litros para dar conta. A plantação que mais demanda produtos químicos é a de
soja, que sozinha fica com 40% de tudo o que é usado no Brasil. Depois vem o
milho, com 15%. Mas o restante não está livre.
Para piorar, boa parte das pessoas que aplicam esses produtos na comida não
tem a mínima condição de entender – e, portanto, de seguir – as recomendações
técnicas e de segurança determinadas pelos fabricantes dos produtos. O censo
agropecuário do IBGE mostra que 56,3% dos estabelecimentos que despejam
agrotóxicos nas plantações não recebem orientação técnica, e 15,7% dos
responsáveis pela pulverização dos produtos não sabem ler nem escrever. O
analfabetismo entre os agricultores é de 45,7% das mulheres e 38,1% dos
homens. Só 3% têm nível superior.
O resultado está aí: um terço do que comemos tem resíduos químicos
agrícolas em níveis inaceitáveis. O último ranking da Anvisa mostrou que 91,8%
das amostras de pimentão e 63,4% das de morango carregam pesticidas de uso
proibido ou em doses acima do aceitável. Lavá-los bem resolve apenas parte do
problema, porque essas substâncias penetram nos vegetais e não são solúveis em
água. O que dá para fazer é buscar saber de onde a comida vem, porque existem
selos que certificam os produtores compromissados com boas práticas. Outra
recomendação é preferir os produtos de época, que precisam de menos
agrotóxicos para se desenvolver.
Seja como for, o fato é que os pesticidas acabaram se tornando tão importantes
para a agricultura quanto a chuva e o sol. E acabaram dando origem aos
transgênicos, assunto do nosso próximo capítulo.

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