Prato Sujo - Como a indústria manipula os alimentos para viciar você! ( PDFDrive )

(Ruy Abreu) #1

EU NÃO GOSTAVA DE VERDURA QUANDO ERA criança. Mas comia. Ovo
e mamão? Não podia nem sentir o cheiro. Aí chegou a adolescência e eu aprendi
a ser mais democrática. Menos com pepino e sagu, que não me convenceram até
hoje. Parte da minha família é de origem libanesa e tive muitos almoços felizes
regados a charutinho de folha de uva com hortelã e pasta de grão-de-bico. Só de
lembrar já sinto o gosto e o cheiro. Nos fins de tarde, eu pegava tomate ou limão,
tacava sal e ficava ali saboreando minhas invenções culinárias até o sol se pôr.
Para enganar a fome enquanto o jantar não saía, comia cenoura crua. Também
amava doces, claro. Cheguei a devorar colheradas de açúcar diretamente do pote,
num momento de distração dos adultos de plantão – bobinhos.
Até que um dia o salmão virou ômega 3, as cenouras se transformaram em
betacaroteno e o açúcar mudou o RG para carboidrato. Comer passou a ser um
negócio complicado. Os tomates sumiram do meu prato e, no lugar deles,
apareceram licopenos. Minhas batatas fritas, que eu saboreava com arroz, feijão,
bife e salada, se tornaram criminosas. Vi minha vida passar diante dos meus
olhos quando soube que aquelas belezinhas crocantes por fora e macias por
dentro tinham um monte de gordura e que isso não era legal. Comecei a comê-
las escondida de mim mesma e fingindo que não pensava nelas diante de um filé
de peito de frango grelhado – aliás, me desculpe, o correto é dizer proteína
magra. Alguém mordeu a maçã do pecado original da alimentação e nos
condenou às vitaminas e aos antioxidantes. Só pode ser. Mas eu me libertei e
estou aqui para dar meu testemunho.


Vamos   começar com o   chocolate.  Ele é   um  que a   gente   vive    na  dúvida  se  evita
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