Tem mais. Uma plantação livre de aditivos químicos demora para ficar no
ponto. Os resultados chegam a ser 40% menores do que os do método
tradicional. No caso dos animais orgânicos, o problema é o preço da ração, que
vem de grãos cultivados sem o uso de fertilizantes e agrotóxicos. Esses grãos
não se desenvolvem tão rápido quanto os normais, nem em qualquer época do
ano. “A soja chega a ficar até 200% mais cara e o milho, cerca de 50%”, afirma
Demattê Filho.
Como a produção acontece em pequena escala e não é padronizada, fica mais
difícil fornecer para supermercados ou restaurantes, que precisam de quantidade
e regularidade. Daí o entrave para a produção em massa. E produzir em pequena
escala encarece qualquer produto. Também não existe tanta gente comprando e,
por isso, poucos agricultores conseguem ganhar dinheiro suficiente para
sobreviver desse mercado.
Pior: mesmo que o preço final de um orgânico seja em média 30% mais caro
que um convencional, é comum ver alimentos que custam 100% a mais. E isso
porque os supermercados conseguem negociar custos melhores com os
produtores, já que compram sempre em larga escala. É o efeito Ferrari: se um
carro custa muito, ele é acessível somente a uma parcela da população. Claro,
tomates não se comparam com Ferraris, mas consumir orgânicos hoje em dia
significa fazer parte de uma elite que pode colocar a saúde na frente do preço. É
só olhar os espaços destinados a esses produtos nas prateleiras dos
supermercados, organizados como uma área vip. Nos bairros pobres, a chance de
encontrá-los é quase zero.
Mesmo assim, existem opções orgânicas mais baratas. O Instituto de Defesa
do Consumidor (Idec) pesquisou o preço de sete alimentos orgânicos – tomate,
alface americana, chuchu, cebola, repolho verde, berinjela e pimentão verde –
em São Paulo, Curitiba, Recife e Fortaleza. A diferença de valores para o mesmo
produto chegou a 463%. Em todos os casos, os mais caros estão nos
supermercados e os mais baratos estão nas feiras orgânicas. Um quilo de tomate
orgânico, por exemplo, pode custar até 115% a mais em uma grande rede em São
Paulo e 259% no Recife. Em Curitiba, a alface americana orgânica pode sair por
um quinto do preço na feira. “Para muitos alimentos, o cultivo orgânico já tem
os mesmos índices de produtividade do comum”, diz o engenheiro de alimentos
Fernando Kuniyoshi Rebelatto. E não é só porque para os orgânicos não existem
gastos com fertilizantes químicos, nem com agrotóxicos, nem sementes
melhoradas por grandes empresas. Os consumidores estão mais atentos a
questões sobre biodiversidade e qualidade da comida.
Quando você anda na seção de frutas, verduras e legumes convencionais do
supermercado, não tem ideia de como aqueles vegetais foram parar ali. Para que
ruy abreu
(Ruy Abreu)
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