Prato Sujo - Como a indústria manipula os alimentos para viciar você! ( PDFDrive )

(Ruy Abreu) #1

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Quase 70% da produção
vai para a exportação, a maioria de café e açúcar, porque o mercado interno
ainda é pequeno. Os Estados Unidos e a Europa consomem 90% da carne
orgânica feita no mundo. Só 1,8% das nossas empresas de alimentos fabrica
produtos orgânicos. Na França, são 7%; no Reino Unido, 21%; na Holanda,
36%.
O governo federal até tem programas de incentivo à produção não
convencional, como linha de crédito para produtores e uma lei para as
prefeituras que recebem recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento à
Educação, determinando que 30% da comida servida nas escolas venha da
agricultura familiar, de preferência orgânica. O “de preferência” gera debates
calorosos. Algumas prefeituras alegam que a produção é pequena para atender à
demanda e que os alimentos não são padronizados, por isso não conseguem dar
preferência a eles.


SUPERORGÂNICOS


Se boa parte dos consumidores tem um pé atrás com os transgênicos, os adeptos
da agricultura orgânica têm os dois. Nada mais antinatural que colocar os genes
de uma espécie em outra, não é? É, mas a própria agricultura, orgânica ou
comum, não tem nada de “natural”. Todas as espécies que cultivamos são fruto
de uma engenharia genética à moda antiga. Ao longo dos mais de dez mil anos
desde a criação da agricultura e da pecuária, fazendeiros foram selecionando os
melhores espécimes de cada planta, geração após geração, para conseguir
vegetais cada vez maiores e mais robustos. Engenharia genética na raça, com
séculos de tentativa e erro em busca de mais produtividade.
Só que muita coisa acabou perdida nesse processo. Pense no arroz. Existem
mais de 80 mil tipos de semente dele. Boa parte é selvagem, nunca foi cultivada.
Só que, entre essas variedades esquecidas, existem muitas com “genes bons” –
que deixam alguns tipos de arroz matuto mais resistentes ao clima e a certas
pestes que o nosso. Mas cruzar essas variedades da planta no braço para turbinar
o arroz comum é um processo de tentativa e erro, coisa lerda, que pode levar
décadas. A ciência deu um jeito de acelerar o negócio: pegar arroz selvagem,
detectar os “genes bons” que têm ali e transferi-los, no laboratório mesmo, para
o nosso velho arroz doméstico. Um dos objetivos é criar “superorgânicos”:
vegetais tão robustos que, em tese, dispensem fertilizantes e pesticidas químicos.
Tudo isso está em fase de testes, mas uma coisa é fato: a Revolução Verde dos
orgânicos pode chegar logo. Quem comer verá.

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