POSFÁCIO
A VOLTA DA COMIDA DE VERDADE
A Piazza di Spagna é um dos pontos turísticos mais famosos de Roma. Sua
escadaria de mais de cem degraus é rodeada de jardins e liga uma fonte que
lembra um barco a uma igreja que parece ter parado no tempo. É um lugar para
contemplar a vida, de preferência com boa companhia, boa comida e um belo
vinho italiano.
Em 1986, a praça foi tomada por protestos contra a abertura de uma loja do
McDonald’s. Foram vários dias de revoltas, apoiadas por turistas, pelos
moradores e até por celebridades. Dizem que Marcello Mastroianni, o mais
célebre dos atores italianos, estava lá em um dos dias – e que levou um prato de
espaguete para comer em frente ao M amarelo.
O McDonald’s se estabeleceu na Itália como no resto do planeta, mas aquele
ano mudou o mundo de muita gente. Ao final dos protestos, um grupo se uniu
para organizar um movimento que incentivasse as pessoas a tirar o pé do
acelerador, a saborear alimentos locais e a adotar um estilo de vida que pare de
depredar o planeta: o Slow Food, contra o ritmo frenético dos dias de hoje e a
favor do prazer de saborear uma refeição de verdade ao lado de amigos de carne
e osso. O Slow Food foi um dos pioneiros da filosofia que prega o que todo
mundo vê, mas ninguém tem tempo de perceber: em troca de dinheiro e algum
poder, abrimos mão de uma alimentação de qualidade, com comida de verdade e,
sim, espaço para prazeres como hambúrguer e batata frita. Quando a rotina
alimentar não é tóxica, eventuais exageros não causam estragos.
Esse resgate a uma vida mais simples tem levado muita gente de volta ao
campo. No Brasil, esse grupo é chamado de neorrural. São pessoas que nasceram
ou cresceram na cidade e migraram para o campo em busca de mais qualidade de
vida e menos loucura. É o caso do filósofo Dercílio Aristeu Pupin. Filho de