(2017) Aventuras na História 164 - Fidel Castro (Ed. especial)

(AP) #1
expedicionários. (...) Era hora de fa-
zer, de combater, de planejar. De dei-
xar de chorar para começar a lutar”.
Por sua vez, Fidel Castro recor-
daria num discurso, também em
1967, a primeira impressão que teve
do argentino. “Era uma dessas pes-
soas por quem tomamos afeto no
primeiro momento pela simplicida-
de, o caráter, a naturalidade, o com-
panheirismo, a personalidade e a
originalidade, mesmo quando ainda
não conhecemos as virtudes singu-
lares que o caracterizam.” Fidel pre-
cisou de poucos meses para juntar
exilados cubanos e reorganizar o
Movimento 26 de Julho (ou M-26-7,
data do assalto ao quartel Moncada),
movimento que ele havia fundado
pouco antes em Cuba, na clandesti-
nidade. O primeiro objetivo do gru-
po era desembarcar na ilha com um
contingente bem armado e fazer um
chamado aos camponeses, para que
se unissem à revolução.
Uma vez garantido o respaldo
popular, Fidel esperava levar adian-
te seu programa de governo. Logo
de cara, pretendia eliminar funcio-
nários corruptos, iniciar a indus-
trialização do país, assentar 100 mil
pequenos agricultores, limitar o
tamanho das fazendas e repartir o
excesso de produção entre famílias
camponesas. Em busca de recursos,
Fidel viajou a Tampa, Miami, Nova
York e outras cidades americanas,
divulgando a revolução entre exila-
dos cubanos. Conseguiu angariar
cerca de 50 mil dólares, dinheiro
prontamente convertido em algu-
mas armas e munições para
embrião do Exército Rebelde


  • que, àquela altura, já con-
    tava com mais de 80 volun-
    tários. “Esse valor, é claro,
    foi doado pelos cubanos ri-


DOM
QUIXOTE À
CUBANA

Alberto Bayo era um
camarada de extremos.
Nasceu em Cuba, mas
foi educado nos EUA.
Seguiu carreira militar,
mas gostava de publicar
poesias. E parecia um
Lênin gorducho, embora
não fosse com a cara do
líder comunista. Bayo era
aviador. A missão mais
importante de sua vida
foi uma invasão de barco
à ilha de Mallorca, durante
a Guerra Civil espanhola.
Alguns historiadores dizem
que era péssimo militar.
Mas todos concordam
num ponto: ele foi um
aventureiro de primeira.
Quando conheceu
Fidel Castro, em 1955,
Bayo levava uma vida
pacata: administrava
uma fábrica de móveis.
Com Fidel no poder,
depois da revolução, Bayo
foi alçado ao posto de
general do Exército de
Cuba. Pouco antes de
morrer, em 1967, ainda
esbanjava disposição.
“Se não fosse pela artrite,
a diabetes, as duas
tromboses, o olho de
vidro e as 14 balas que
tenho espalhadas pelo
corpo, estaria feito um
leão”, teria dito aos
amigos, com o humor
que lhe era
tão característico.

LIVRO
El Che Guevara – L a B i o g r a fi a, Hugo
Gambino, Editora Argentina, 2005
(em espanhol)

SAIBA MAIS

cos, que acreditavam muito mais na
queda de Fulgêncio Batista do que
no programa social de Castro”,
afirma Gambini.
De volta ao México, Fidel achou
o homem ideal para treinar seus re-
crutas: o cubano Alberto Bayo, an-
tigo oficial do Exército Republicano
espanhol (veja ao lado).
O local escolhido para o treina-
mento foi a imensa fazenda Santa
Rosa, localizada perto do município
de Chalco. Com 9 quilômetros de
largura por 15 quilômetros de com-
primento, vegetação densa e relevo
montanhoso, a propriedade repro-
duzia algumas das condições que os
guerrilheiros enfrentariam mais
tarde, nas serras de Cuba. “Durante
três meses, Bayo ensinou os segre-
dos da guerrilha”, diz Gambini.
“Eles aprenderam a dar tiros de pis-
tola, rif le e metralhadora; fabricar
bombas para explodir barricadas e
destruir tanques; localizar e derru-
bar aviões; camuf lar-se e esconder-
se; transportar e atender feridos; e
andar pela selva sem serem desco-
bertos.” Embora sofresse de asma,
Guevara foi o primeiro da turma,
com nota dez em todos os cursos.
Em fins de 1956, Fidel e Raúl de-
cidiram que já era hora de tomar o
poder em Cuba. Compraram um
barco, o iate Granma (do inglês
grandmother, “vovó”) e, no dia 25 de
novembro, deixaram silenciosamen-
te o cais do Rio Tuxpan, em Vera-
cruz, levando na popa uma bandei-
ra vermelha e preta – as cores do
Movimento 26 de Julho. A proa em-
bicava rumo à costa leste de
Cuba. Era lá que Fidel, Che
Guevara, Raúl Castro e o res-
to da tropa colocariam em
prática tudo o que haviam
planejado no México.

24 | AVENTURAS NA HISTÓRIA

PRIMÓRDIOS


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