(2017) Aventuras na História 164 - Fidel Castro (Ed. especial)

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quatro horas e meia que, em 1960, o
colocaria pela primeira vez no Guiness
Book por proferir o discurso mais lon-
go da história da ONU. Vinte e seis
anos mais tarde, em 1986, bateria sua
própria marca, falando por intermi-
náveis sete horas e dez minutos du-
rante o Terceiro Congresso do Partido
Comunista de Cuba.
No segundo ano de faculdade, Fi-
del viajou até Bogotá, capital da Co-
lômbia, para os preparativos de um
congresso latino-americano de estu-
dantes. Sua presença ali coincidiu
com o assassinato do líder da oposição
colombiana, Jorge Eliécer Gaitán. O
episódio deu origem ao “Bogotazo”,
protestos que evoluíram para um ciclo
de violência incontrolável. Fidel ade-
riu às manifestações e, empunhando
um fuzil, sentiu pela primeira vez o
gostinho de uma rebelião armada.
“Foi a primeira vez que vi uma revo-
lução popular”, diria anos depois.

MULHERES E CRIANÇAS
De volta a Cuba, Fidel Castro casou-
se, em 1948, com a estudante de filo-
sofia Mirta Díaz-Balart, uma loura
de olhos claros e também militante
estudantil. Com ela, teria um filho,
Fidel Félix Castro Díaz-Balart, o “Fi-
delito”. Quando se integrou à revolu-
ção, a ausência constante de casa e a
dificuldade financeira da vida na
clandestinidade fizeram o casamen-
to entrar numa séria crise.
Amigos ajudavam a pagar as
contas de luz do casal, o açou-
gue e o armazém. Nessa fase
de aperto e intensa movimen-
tação política, ele conheceu
outra jovem e bela militante,
Natalia Revuelta, a “Natty”,
com quem manteria um caso
de amor paralelo. Natalia deu
a Fidel uma filha, Alina, hoje

El pEcador
Ao lAdo de CAlvino, lutero e
Henrique viii, Fidel CAstro
integrA o seletíssimo Clube
dos exComungAdos

Em 1961, depois da invasão
americana à Baía dos Porcos,
Cuba nacionalizou propriedades
de organizações religiosas,
inclusive as da Igreja Católica.
Centenas de padres foram
expulsos da ilha. E Fidel Castro
declarou que o Estado, dali em
diante, seria ateu. Embora
tenha sido salvo do fuzilamento
por um arcebispo, depois do
fracassado levante contra o
quartel Moncada, em 1953, o
comandante teve uma relação
difícil com a Igreja desde seus
primeiros meses no poder.
A reforma agrária, decretada
menos de cinco meses depois
da revolução, desagradara a
maior parte do clero, que
cultivava ligações históricas
com donos de engenho e
latifundiários. A resposta
do Vaticano não demorou.
Em 1962, o papa Leão XXIII
excomungou Fidel –
colocando-o ao lado de Lutero,
Calvino e Henrique VIII no
grupo dos que já foram ou irão
para o inferno. Em 1998, com
a visita do papa João Paulo II a
Cuba, o governo mostrou-se
mais tolerante ao catolicismo.
Atualmente, cresce igualmente
o número de igrejas
protestantes no país. Boa
parte da população religiosa é
adepta da santería, sincretismo
que funde os santos católicos
a entidades tradicionais
africanas, parecida com
a umbanda brasileira.

LIVROS
Fidel Castro: Uma Biografia
ConsentidaFuriati, Revan, 2001, Claudia
Fidel: Um Retrato Crítico, Tad Szulc,
Best-Seller, 1987
Fidel Castro: Biografia a Duas
VozesRamonet, Boitempo, , Ignacio
2006
Alina: Memórias da Filha de Fidel Castro,
Alina Fernández, Ática, 1988

saiba mais

exilada em Miami e autora de um
livro de memórias no qual se refere
ao pai como “tirano”.
A relação com a esposa se tornou
insustentável quando o irmão de Mir-
ta foi nomeado vice-ministro do Inte-
rior de Fulgêncio Batista, pasta res-
ponsável pelas ações da polícia secre-
ta. Na prisão, logo após o ataque a
Moncada, Fidel soube que a esposa
recebia uma subvenção do ministério
para as despesas domésticas. Após o
rompimento, ele jamais voltaria a
casar-se. “Como revolucionário, recu-
so-me a misturar família com política.
Essa história de primeira-dama me
parece ridícula”, justificou, em 2002,
ao cineasta Oliver Stone, que filmava
o documentário Olhando para Fidel.
Outras mulheres cruzariam seu
caminho. Durante a guerrilha, Fidel
conheceu Celia Sánchez, com quem
viveria um de seus mais duradouros
romances. Na condição de chefe da
revolução vitoriosa, em 1961, foi apre-
sentado a Dalia Soto, a “Lala”, de feli-
nos olhos verdes. Teve com ela cinco
filhos. Todos, assim como “Fidelito”,
vivem discretamente em Cuba. Há
notícias de pelo menos outros dois
herdeiros, Jorge e Francisca, frutos de
relacionamentos fugazes.
Na vida de Fidel, tudo foi assim,
superlativo e nebuloso. Foi o líder
efetivo com o mandato mais longo da
História (os recordistas são monarcas
sem poder). Ditou por quase
meio século os destinos dos
cubanos, resistindo à pressão
exercida por dez presidentes
americanos. Sob o pretexto de
manter a revolução intacta,
reprimiu opositores, manteve
a imprensa sob censura e
mandou centenas de dissiden-
tes para a cadeia ou o paredón.
A história o absolverá?

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