REVISTA VOO LIVRE JANEIRO Nº 18

(MARINA MARINO) #1

Poesia por Marta Cortezão


A linguagem é tecido elástico
que aquece as contradições e os
paradoxos, na fria neblina das
coisidadesdeseusdesvãosedeseus
(para)enigmas, mas sem nunca
decifrá-losdetodo.Énestaságuasde
puroêxtase que me atiroemqueda
livre para o mergulho selvagem em
percepções visuais, sensoriais e
emocionais dos vários instantes de
maravilhamento, onde a beleza
impalpável do verbo, prenhe de
humanidades, invade corpo e alma.
Feitadeumbrevemomento,masde
corpulenta, inebriante e infindável
dimensão, a epifania pode ser
desatada por vários incidentes,
acontecimentos triviais, memórias,
seres ou coisas, mas sua fonte de
origeméinalcançável,umavezquea
razão se perde no âmbito do
incognoscível para permanecer no
regaço da intimidade daquele(a) a
quemelaserevela.Mergulhemosno
poema Mosaico, de Elizabete
Nascimento que se encontra no
OráculoàDeusaSelene,napág. 87 da
Coletânea Enluaradas II: uma
CirandadeDeusas:


MOSAICO| Elizabete Nascimento

A partir de hoje...
desejo o colo
que me tira o medo.
desejo os braços
que me suspendem do chão.
desejo sentimentos
que aceleram o coração.
A partir de hoje...
desejo sementes
de lua,
que germinam estrelas,
que sustentam a minha
constelação.
A partir de hoje...
desejo a infinita arte da
Ursa Maior, com retalhos raros e
linhas finas,
mosaico, colcha de retalhos
feita pelas mãos de deusas
estelares.
A partir de hoje...
Só desejos e feituras
que alimentam a fome.
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