REVISTA VOO LIVRE JANEIRO Nº 18

(MARINA MARINO) #1

Poesia por Marta Cortezão


SOPORÍFERA|AnnaLiz

Desobressalto,
ACORDOU!
Respirou
avidaquenãoviveu,masque
aindalatejadentrodesi.

Opulsardeseucoraçãoainda
marca
umtempoinvivido...
Otempodevora...devorae
nãoretorna...

Tardedemais!

Aprisionada!Nãoporalguém
masporsimesma.

Acordounofinalzinho
paradescobrirquemorrerá
semtervivido.

O próprio título do poema
sinaliza para aquilo que é
considerado enfadonho, entediante,
enfermiço,aquiloquenãoédesejado,
um estado de sopor. No poema, o
tecido elástico da linguagem vai
revelandoqueosimplesfatodeabrir
os olhos, de acordar, de ver, é rota
certa para transcender o plano do
real.Avozfemininadoeupoemático,
no espaço desua alcova, contempla,
comoemumapintura,avidaquenão
viveu,quelheescorreunaliquidezde
“um tempo invivido”, deixando
apenas um arrependimento tardio
que a “devora” em consequência do
aprisionamento que causou a si
mesma. Mas, ao mesmo tempo que
arrastao pesoda culpa,“a vidaque
nãoviveu”continuaalatejar“dentro
desi”, assim como“O pulsarde seu
coração ainda marca/ o tempo
invivido...”.
Há um todo sinestésico no
poemaque surge de sobressalto, no
ato de ‘acordar’, abrir os olhos, ver,
tomarconsciênciae,porconseguinte,
o corpolateja a vidanão vivida e o
coraçãopulsaasangústiasdestanão-
vida, sensações amargas, uma
desgraçaconstatadapelavidainútil
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