Macro
- EXAME. DEZEMBRO 2021
A
pesar de ser um dos se-
tores que mais emitem
CO^2 em todo o planeta,
a indústria dos cimentos
foi a primeira a avançar
com um plano detalhado para a descarbo-
nização, logo nos anos 90, passando tam-
bém a monitorizar e reportar as emissões
de carbono de todo o setor. Uma estraté-
gia que acabou por dar os seus frutos e
que resultou numa redução da sua pega-
da ecológica em 20% ao longo das últimas
três décadas. Este foi um grande passo no
início da descarbonização desta indústria,
mas os responsáveis do setor estão cons-
cientes que existe ainda um longo cami-
nho a percorrer para atingir a meta da
neutralidade carbónica em 2050.
“Em 2009, publicámos o primeiro ro-
teiro com as linhas orientadoras para esse
objetivo. Por sabermos exatamente o de-
safio que tínhamos pela frente, fomos
pioneiros nesta matéria. E já conseguimos
muitos avanços até agora. Não só nos com-
prometemos com objetivos de descarboni-
zação, como também temos sido um dos
setores mais proativos nesta matéria”, diz
Otmar Hubscher, CEO da Secil e presiden-
te da ATIC, associação que representa a in-
dústria cimenteira em Portugal.
Mas a tarefa não se avizinha fácil. Afinal,
estamos a falar do setor que representa 7%
do total das emissões de CO 2 em todo o pla-
neta. Se fosse um país, a indústria cimentei-
ra apenas seria ultrapassada, em matéria de
emissões, pela China e pelos EUA.“Temos plena consciência que somos
um dos setores que mais emite CO 2 , mas
também sabemos que este número tem de
se colocar em perspetiva. Anualmente, o
planeta usa 14 mil milhões de metros cú-
bicos de betão, o que leva a um consumo
total de 4,2 mil milhões de toneladas de
cimento. A seguir à água, o betão é o pro-
duto mais consumido pelo ser humano”,
justifica Otmar Hubscher.
Face a esta realidade, o grande objeti-
vo da indústria cimenteira passa agora por
criar formas de mitigar o seu impacto no
meio ambiente. Ainda em março deste ano,
o setor voltou a delinear um novo roteiro
para atingir este fim. E inscreveu no docu-
mento algumas medidas mais radicais face
às que anteriormente tinham sido anunci-SUSTENTABILIDADEA encruzilhada
do setor cimenteiro
Atingir a neutralidade carbónica é um dos grandes objetivos
de um setor que representa 7% das emissões mundiais de CO 2.
A mudança para energias verdes e o uso de tecnologias disruptivas
faz sonhar com esta realidade, mas existe um longo caminho
a percorrer e um elevado custo a pagar
Texto Paulo M. Santos Fotografia Marcos Borga