Exame - Portugal - Edição 452 (2021-12)

(Maropa) #1

Macro



  1. EXAME. DEZEMBRO 2021


Em Portugal, a indústria prevê inves-
tir um total de 500 milhões de euros neste
processo até 2030 e cerca de mil milhões
até 2050.
Em matéria de reutilização de CO^2 ,
ambos os gestores concordam que seria
necessário que a União Europeia apoiasse
a construção de um gasoduto intraeuro-
peu que pudesse transportar este gás dos
locais onde é emitido até às indústrias
que os irão utilizar em novos produtos.
“Esta seria uma infraestrutura fundamen-
tal para reutilizar o carbono. Já foi falada
por várias vezes em Bruxelas, mas nem
sequer existe um plano na mesa”, explica
o CEO da Cimpor.


PERDA DE COMPETITIVIDADE
Enquanto as cimenteiras da Europa gas-
tam centenas de milhões em investigação
e desenvolvimento para tentar trazer para
o mercado novos produtos mais amigos do
ambiente, as suas congéneres oriundas de
países onde as regras não são tão apertadas
vão ganhando mercado na União Europeia.
Entre 2014 e 2019, o volume de importação
de cimento duplicou de países vizinhos,
nomeadamente do Norte de África.
O setor defende agora, a nível europeu,
a criação de um mecanismo de ajuste fron-
teiriço de carbono de forma obrigar quem


vá comprar cimento ao exterior, nomea-
damente a países do Norte de África, a pa-
gar o respetivo carbono gerado por aquele
produto, num valor idêntico ao que é pago
nas cimenteiras europeias. “Não queremos
nenhum mecanismo especial de proteção.
O que defendemos é a criação de condições
iguais de tratamento, caso contrário esta-
mos numa situação de clara desvantagem
competitiva”, justifica Otmar Hubscher.
O gestor vai ainda mais longe e garan-
te que esta medida acabaria por ter um

efeito colateral positivo. “Se essas empre-
sas fossem obrigadas a pagar o CO 2 para
vender na Europa, teriam de se esforçar
mais para reduzir as emissões. E isto sim,
seria ajudar o planeta”, remata.
Caso contrário, alerta Luís Fernandes,
“corremos o risco de muitas cimenteiras
mudarem a produção para o exterior e,
em termos globais, como naqueles países
as regras não são tão apertadas, o impacto
ambiental será ainda pior”.
Além destas vantagens competitivas,
a indústria cimenteira nacional debate-se
ainda com outro problema. Portugal tem
uma das eletricidades mais caras para a
indústria o que, para um setor eletro-in-
tensivo, onde a energia representa mais de
60% dos custos variáveis, qualquer vari-
ação dos preços deste fator de produção
tem um enorme peso na fatura final, mui-
to superior às suas congéneres europeias
que, nalguns casos, pagam menos 80%
pela energia consumida.
Mas, como em tudo, existe o reverso
da medalha. Este foi talvez um dos pou-
cos setores que registaram crescimento de
vendas durante o período da pandemia.
Um ganho que não dá para suportar todos
os custos associados a este enorme desafio
da transição carbónica, mas sempre pode
dar uma ajuda. E

A indústria
cimenteira está
a acelerar o processo
de descarbonização.
Temos de ir por esse
caminho. Não há
planeta B

Luís Fernandes
CEO da Cimpor e presidente
da comissão executiva da ATIC
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