Exame - Portugal - Edição 452 (2021-12)

(Maropa) #1
DEZEMBRO 2021. EXAME. 13

PRR E A RECUPERAÇÃO


Após os danos causados pela
pandemia na economia e na
sociedade, a questão passa a ser
a forma de se compensar esses
estragos. Uma das possíveis ar-
mas é o Plano de Recuperação
e Resiliência (PRR). Mas até
que ponto essa bazuca poderá
relançar o País? Conceição Za-
galo comentou que a conversa
em torno do PRR faz lembrar
aquelas de antigamente, no
tempo dos sermões, em que as
pessoas diziam: “Ah! O senhor
padre falou tão bem!” “Mas o
que disse?” “Isso já não sei.” A
empreendedora social defendeu
mais proximidade, transparên-
cia e comunicação entre os res-
ponsáveis políticos e a popula-
ção, e considerou que é preciso
mostrar às pessoas o impacto
que o PRR e outras políticas de
recuperação da economia têm
no seu dia a dia.
Susana Peralta também rei-
terou a necessidade de se “ou-
vir as pessoas”. Já sobre o PRR,
a professora de Economia na
Nova SBE classificou-o como


contrariamente ao que acontece
na União Europeia. Clara Rapo-
so defendeu, no entanto, que va-
mos a tempo de equilibrar isso
e que o PRR pode ser uma aju-
da. “A nossa recuperação é di-
ferente, mas está a acontecer, e
até atingimos em 2021 os níveis
de investimento mais elevados
dos últimos tempos”, sublinhou
a presidente do ISEG. Uma das
explicações para este aparen-
te atraso da recuperação por-
tuguesa está relacionada com
a importância do turismo na
nossa economia. Será essa de-
pendência negativa e uma espé-
cie de monocultura? José The-
otónio, CEO do Grupo Pestana,
rejeita essa hipótese e defende
que o problema não é deste se-
tor mas resulta do facto de não
haver mais setores como este,
que tem vantagens naturais face
aos concorrentes, e, assim que
a economia abriu, deu-se uma
recuperação “em V”

E DEPOIS DA CRISE POLÍTICA?
A situação política do País tam-
bém foi passada a pente fino

na Portugal em Exame. Fran-
cisco Assis aconselhou que,
até às próximas eleições de 30
de janeiro, os políticos tenham
“a preocupação de apresentar
com clareza o que pensam so-
bre os mais diversos assuntos,
mas sem que isso impeça com-
promissos políticos”, por for-
ma a se evitar a continuação de
uma “polarização excessiva do
debate político”. O presidente
do Conselho Económico e So-
cial defendeu que “precisamos
de alguns entendimentos de re-
gime em Portugal”.
Já António Bagão Félix acre-
dita que, “com maior ou menor
dificuldade, se chegará a enten-
dimentos que eliminem esta go-
vernação a retalho, difícil de se
perceber do ponto de vista prag-
mático”. No entanto, o antigo
ministro das Finanças confessa:
“Tenho um problema. Sou con-
victamente um democrata-cris-
tão e não tenho partido em que
votar. Tenho de fazer um juízo
e fá-lo-ei tendo em vista solu-
ções de governabilidade e esta-
bilidade.” E

Com o apoio

“uma grande manta de reta-
lhos”, apesar de ter “algumas
coisas boas”, como a preocu-
pação com o ensino e com a
habitação, por exemplo. No en-
tanto, falta uma dimensão que a
economista considera essencial:
uma reforma da Segurança So-
cial que seja menos baseada em
relações de trabalho contratu-
almente estáveis e que respon-
da ao problema de termos um
Estado Social desenhado numa
série de pressupostos que já
não existem na sociedade atu-
al. Além disso, apesar da nar-
rativa dos milhões da Europa,
Susana Peralta põe os núme-
ros em perspetiva: “Se são €
mil milhões, um quarto disso é
o que vamos enterrar na TAP. É
muito difícil para mim dizer que
vai salvar o País.” Já Luís Castro
e Almeida considerou que “um
PRR sem reformas estruturais é
como gastar dinheiro num car-
ro velho e ineficiente”.
Não obstante a economia es-
tar a recuperar, o PIB português
ainda não apagou todo o terre-
no perdido durante a pandemia,

Clube dos moderados
Francisco Assis
e Bagão Félix
realçaram
a necessidade
de consensos para se
avançar com reformas
estruturais no País,
numa conversa
moderada por Mafalda
Anjos, diretora
da VISÃO.

O que é isso da sustentabilidade?
João Lé, administrador executivo da Navigator, João Meneses, secretário-geral
do Business Council for Sustainable Development Portugal, e Pedro Afonso,
CEO da Vinci Energies Portugal, discutiram sobre o conceito de sustentabilidade,
num painel moderado por Paulo Zacarias Gomes, jornalista da EXAME
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