DEZEMBRO 2021. EXAME. 21
mais difícil –, os três grandes empresários do
top, falecidos recentemente, deixaram bem
sólido o seu património. Falamos de Américo
Amorim, Alexandre Soares dos Santos e Bel-
miro de Azevedo, cujos herdeiros se mantêm
de pedra e cal nos lugares cimeiros (primeira,
segunda e quinta posição, respetivamente).
A família Guimarães de Mello, descendente
do empresário José de Mello, na terceira po-
sição este ano, tem conseguido não só manter
como engrandecer o já extenso património
familiar. O top 5 conta ainda com José Ne-
ves no quarto lugar, com 1 548,5 milhões de
euros, um bilionário recente no panorama
nacional, cujo ativo é a Farfetch e que no ano
passado tinha ascendido à quinta posição.
Este ano, o empresário regista uma fatia su-
perior à de 2020 em cerca de 400 milhões de
euros. A fortuna deste empreendedor, que
desenvolveu, em 2007, uma plataforma on-
line destinada à venda de marcas de luxo,
sobe e desce ao sabor da cotação das ações,
que este ano, em fevereiro último, atingiram
um máximo histórico de 73,3 dólares (cerca
de 64 euros). Se a contabilização da riqueza
do empresário tivesse sido feita nessa data, a
sua fortuna estaria certamente entre as duas
primeiras deste ranking.
Os restantes nomes da lista são prati-
camente todos repetidos e entram e saem
conforme as cotações ou os resultados dos
exercícios dos anos anteriores. Por exemplo,
os primos de Alexandre Soares dos Santos,
que partilham com os seus herdeiros a So-
ciedade Francisco Manuel dos Santos, que
detém 56% da Jerónimo Martins, vão entran-
do e saindo, conforme as ações da empresa
valorizam ou desvalorizam. A nova entrada
deste ano foi a empresária Rosália Teixeira
e família, dona do Grupo Porto Editora, que
conseguiu, em 2021, ter uma avaliação supe-
rior à do ano transato, de 348,5 milhões de
euros, conquistando assim a 24ª posição. E
A DIFÍCIL CAÇA
AO UNICÓRNIO
Outsystems, Talkdesk, Feedzai e agora, mais recentemente, a Remote são quatro
dos unicórnios nacionais que, apesar das elevadas avaliações feitas pelo mercado, não
divulgam as participações acionistas dos sócios fundadores, dificultando as nossas contas
Ano após ano,
uma das maio-
res dificuldades senti-
das nas avaliações dos
maiores patrimónios
nacionais é a falta de
acesso a dados públi-
cos e credíveis sobre
participações acio-
nistas, sobretudo nos
grupos – e já são vári-
os – que têm as sedes
e holdings fora do País.
A impossibilidade de
aceder a contas bancá-
rias, dentro ou fora do
País, coleções de artes,
entre outros ativos, tor-
na também a nossa ta-
refa mais árdua e me-
nos objetiva. Daí que
tenhamos em conta,
sobretudo, o valor pa-
trimónio empresarial e
imobiliário – nos casos
em que é possível afe-
rir a propriedade desse
património.
Nos últimos tem-
pos, tem-nos surgido
uma outra dificuldade:
a de conseguir saber ao
certo quais as partici-
pações acionistas das
startups tecnológicas
que conseguiram ele-
var-se ao estatuto de
unicórnio – nome dado
àquelas que atingem,
em rondas de investi-
mento, a valorização
de mil milhões de dó-
lares. A primeira soci-
edade de origem portu-
guesa a conseguir esse
feito foi criada por José
Neves, a Farfetch que,
estando já cotada na
bolsa de Nova Iorque,
é obrigada a divulgar
as participações qua-
lificadas dos seus aci-
onistas.
Porém, além desta,
existem mais quatro
unicórnios fundados
por portugueses: a Ou-
tsystems, a Talkdesk, e
já este ano, a Feedzai e
a Remote. Destas, ape-
nas a Feedzai tem sede
em Portugal e, mesmo
assim, não foi possível
saber as participações
dos três fundadores:
Nuno Sebastião, Pedro
Bizarro e Paulo Mar-
ques.
Nenhuma des-
tas empresas divulga,
quando questionada,
as respetivas posições
dos seus fundadores.
Em tempos, Paulo Ro-
sado afirmou em entre-
vista ter ainda 34% da
Outsystems, mas com
novas entradas no capi-
tal da empresa poderá
não se ter mantido as-
sim. Com uma valori-
zação atual superior a
oito mil milhões de eu-
ros, segundo a última
ronda de investimento,
se mantivesse essa per-
centagem, o empresá-
rio teria já uma fatia de
2,7 mil milhões de eu-
ros. Porém, não conse-
guimos confirmar este
valor.
A Talkdesk, fun-
dada por Tiago Paiva e
Cristina Fonseca, esta
última que apesar de
ter saído da organiza-
ção ainda se mantém
como acionista, está
avaliada atualmente
em 8,8 milhões de eu-
ros – se estes acionistas
tiverem, por exemplo,
uma parcela de 10%
cada um, estariam bem
destacados no ranking
dos mais ricos de Por-
tugal. A Remote, fun-
dada pelo português
Marcelo Lebre e pelo
holandês Job van der
Voort, também não
divulga participações,
dizendo apenas que
os dois sócios detêm o
controlo da empresa e
em partes iguais.