DEDEDDEDDDEDEDEDEDEDDEDEDDDDEZEMBRO 2021. EEEEZEEEEEEEE EMB EXAME. 47
D.R.
articulação com a Evotec, uma das maiores
empresas mundiais de design de fármacos
a que a indústria costuma recorrer na mo-
dalidade de CRO (contract research organi-
zations), para evitar duplicar investimentos
dispendiosos em recursos próprios. Ali, a
Pasithea tem ao seu serviço uma equipa ex-
clusiva de 12 pessoas que vai usando o co-
nhecimento acumulado no desenvolvimen-
to de novas soluções para os vários clientes,
aos quais cabe sempre a propriedade das
patentes.
A fase inicial da pesquisa deverá consu-
mir cinco milhões de dólares, dois milhões
dos quais já em 2022, ano em que se espera
também submeter um primeiro pedido de
patente. Entre desenvolvimento, identifica-
ção e caracterização da molécula, estudos
pré-clínicos em animais para definição de
perfis de segurança e eficácia e as várias fa-
ses de ensaios clínicos, um fármaco deste
tipo demora, em média, sete anos a chegar
ao mercado, com um custo real superior a
100 milhões de dólares, estima. “Até che-
gar ao medicamento, é necessário um in-
vestimento inicial muito grande, sempre a
consumir recursos, sem criar lucro e com
uma necessidade de levantar mais e mais
TIAGO REIS MARQUES / CEO da Pasithea Therapeutics
“É UM TANGO QUE TEM DE SER
DANÇADO A DOIS. NÃO VALE
A PENA HAVER CAPITAL SE NÃO
HOUVER ONDE O APLICAR”
O responsável máximo da biotecnológica está contra a “glorificação
do estrangeiro” na investigação, mas defende mudanças culturais
no investimento para a inovação empresarial do País
Alguma vez se sentiu
olhado de forma
diferente no setor pelo
facto de ser português?
Olha-se para o currículo,
para o percurso. Nunca tive
um comentário positi-
vo ou negativo [por ser
português] e raramente
perguntam a nacionalidade.
O mercado americano é
multinacional. Nunca me
senti estrangeiro, nem em
Londres nem aqui nos EUA.
Mas considera-se parte
da chamada “fuga
de cérebros” do País?
Não foi uma fuga, foi uma
decisão lógica. E não foi
por revolta ou por falta de
oportunidades em Portugal
- que evoluiu muito na
capacidade científica. Hoje
ninguém é capaz de fazer
nada, por mais inteligente
que seja, se não tiver con-
dições financeiras para o
fazer. O País só conseguirá
criar valor e aumentar a sua
produtividade se começar
a ter empresas de valor
acrescentado, a fazer mais
investigação e desenvolvi-
mento com as universida-
des. Um país com a mesma
dimensão, como Israel, tem
uma capacidade enor-
me de criar valor porque
tem acesso a capital que
Portugal não tem. Há falta
de apetência pelo risco na
fase inicial das empresas,
é difícil levantar dinheiro. É
um ”tango” que tem de ser
dançado a dois. Não vale a
pena haver capital se não
houver onde o aplicar.
Ainda assim, como é que
se trava essa saída
de cérebros e se captam
mais?
Portugal é um país pequeno
demais para se dar ao luxo
de perder pessoas boas.
Quando uma pessoa vai
para Portugal, não é apenas
à procura de um bom
rendimento, o que quer é
fazer mais e melhor. Mudar
de país só porque paga
apenas um “x” por cento de
IRS, mas depois para na sua
carreira... Estas pessoas não
procuram só melhorar a sua
condição financeira, que-
rem melhorar tecnicamen-
te. Há uma necessidade
do Estado, das empresas
e do ecossistema de
aumentarem a capacidade
de atração e irem buscar
as pessoas válidas ao
exterior. Mas quanto a este
sebastianismo português, à
necessidade de ver que os
“bons” estão lá fora... não
tenho nenhuma glorifica-
ção do estrangeiro. Acho
que isso é uma limitação do
pensamento.
Mas duvido que haja mui-
tos portugueses CEO de
biotecnológicas cotadas
nos Estados Unidos...
[Risos.] Sou o único. Os
únicos CEO portugueses
de cotadas no Nasdaq
seremos eu e o José Neves
[Farfetch] – sem querer
comparar-me. Sou realista,
sei que existem investiga-
dores portugueses na área
das neurociências que são
incríveis e estão no estran-
geiro. Temos empresas em
Portugal – se há quem eu
valorizo e merece os méri-
tos é a Bial, que fez isto sem
necessidade de exportar
capital, ou a Bluepharma.
Portugal precisa de mais.
Devemos perguntar-nos
porque temos quatro
ou cinco unicórnios nas
tecnologias de informação
e nenhum noutras áreas.
Temos de perceber porquê
e investir aí. Não podemos
alicerçar o nosso modelo
económico no turismo, é de
pouco valor acrescentado.
Temos de atrair imigrantes
qualificados, acesso a capi-
tal, investimento de longo
prazo, estratégico. É isso
que falta a Portugal e que é
preciso existir rapidamente.