deles ficava destroçado.
— Há imensas coisas que ainda poderás fazer — recordou-lhe Sabrina. — Talvez não
possas pintar, mas podes ensinar.
— Como vou poder ensinar? Não poderei ver nada do que estaria a falar. Não se pode
ensinar história de arte se não se puder ver a arte.
— Até aposto que se pode e muitas pessoas cegas são casadas. A tua vida não acabou,
Annie. Só ficou diferente. Não é o fim do mundo. É uma mudança.
— Para ti é muito fácil falar. A minha vida acabou e tu sabes isso. Como poderei voltar
para Itália neste estado? Vou ter de morar em casa do pai, como se fosse uma criança —
disse Annie e começou a soluçar outra vez.
— Isso não é verdade — afirmou Tammy em voz baixa. — Podes viver connosco por uns
tempos, até te habituares. E mais tarde poderás até viver sozinha. Tenho a certeza de que
a maioria dos cegos consegue. Não és deficiente mental, apenas perdeste a visão. Irás
conseguir arranjar uma maneira. Há escolas que ensinam modos de vida para invisuais. E
depois disso, poderás ir viver sozinha.
— Não posso nada. E não quero ir para uma escola. Quero pintar.
— Talvez possas fazer esculturas — sugeriu Tammy, ao mesmo tempo que Sabrina ergueu
os seus polegares em sinal de aprovação do outro lado da cama. Ainda não se tinha
lembrado disso.
— Não sou escultora. Sou pintora.
— Talvez possas aprender. Concede um tempo a ti mesma para te habituares à ideia e
compreenderes.
— A minha vida acabou — lamentou-se Annie com tristeza e depois chorou como uma
criança, enquanto o pai enxugava também os olhos.
Sabrina pensou então que talvez fosse preciso serem duros com Annie e obrigá-la a fazer
esforços que, de outra maneira, ela não faria. Tammy estava a pensar na mesma coisa. Se
Annie ia sentir pena de si mesma e se se recusasse a cooperar, teria de ser forçada. Mas
ainda era demasiado cedo para saber. Ela acabara de receber a notícia e tudo ainda era
bastante terrível e novo.
Ficaram com ela até à hora do jantar e depois, por mais que odiassem, foram obrigados a
ir embora. Todos se sentiam exaustos e Annie precisava de descansar. Haviam estado com
ela durante grande parte do dia e prometeram regressar na manhã seguinte, o que
fizeram.
O domingo correu mais ou menos na mesma, quando muito fora ainda pior do que o dia
anterior, à medida que a realidade ia assentando. Para poder aceitar o que lhe
acontecera, Annie teria de passar por tudo aquilo. A família abandonou o hospital às seis
horas da tarde. Aquela era a última noite de Tammy ali em casa. Ainda tinha de fazer as
malas e queria passar algum tempo com o pai. Chris prometera fazer uma lasanha e
regressaria a Nova Iorque ainda nessa noite.
Tammy beijou Annie quando esta se deitou na cama, com as lágrimas a rolarem-lhe pelas
faces. Tinha os olhos abertos, mas não conseguia vê-los. Os olhos dela continuavam de um
vibrante tom de verde, mas agora eram inúteis para ela.
— Vou-me embora amanhã de manhã — lembrou-lhe Tammy — mas quero que lutes com
garra enquanto eu estiver fora. Vou voltar para te visitar, talvez no fim-de-semana do Dia
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1