jantar. Não havia dúvidas de que ela teria de frequentar uma escola especial para cegos.
Annie tinha razão e haveria imensas coisas que nunca mais poderia fazer. Teria que
aprender todas elas e sobretudo como lidar com essas coisas sem ver — encher uma
banheira de água, fazer torradas, pentear o cabelo.
— Annie vai ter de consultar um psiquiatra — insistiu Sabrina.
Já havia telefonado à psiquiatra e deixou uma mensagem no seu atendedor de chamadas.
— Além disso, achei óptima a tua ideia da escultura — disse Sabrina para Tammy.
— Se ela estiver disposta a isso. Vai ser um factor determinante. Neste momento, Annie
sente-se como se a sua vida tivesse acabado. E, de certa forma, acabou, pelo menos da
maneira como ela estava habituada. A nossa irmã vai ter de efectuar a transição para uma
nova vida. Não é uma coisa muito fácil de fazer, mesmo na idade dela.
— Também não é muito fácil na minha idade — declarou o pai com tristeza, servindo-se
da excelente lasanha que Chris havia preparado. — A propósito, acho que devias
abandonar a advocacia e tornares-te um faz-tudo e um cozinheiro.
Naquela última semana, Chris tinha valido o seu peso em ouro, mostrando-se útil e
prestável de variadíssimas maneiras.
— Podes arranjar emprego aqui quando quiseres.
— Não me hei-de esquecer disso, se me fartar dos processos judiciais.
No entanto, o comentário do pai fez com que todas percebessem que a sua adaptação
também ia ser difícil. Fora casado durante quase trinta e cinco anos e agora estava
sozinho. Jim não estava habituado a tomar conta de si mesmo. Dependera da mulher
durante mais de metade da sua vida e iria sentir-se perdido sem ela. Nem sequer sabia
cozinhar. Sabrina registou na sua mente para não se esquecer de pedir à empregada que
começasse a deixar-lhe as refeições prontas para que o pai pudesse aquecê-las no
microondas, depois de elas se irem embora.
— Todas as viúvas e divorciadas da vizinhança vão começar a bater-lhe à porta —
alertou-o Tammy. — O pai vai passar a ser um homem muito procurado e assediado por
toda a cidade e não terá mãos a medir.
— Não estou interessado — respondeu o pai de mau humor. — Eu amo a tua mãe. Não
quero mais ninguém — rematou Jim, odiando aquela ideia.
— Não, mas elas vão estar interessadas em si.
— Tenho mais que fazer — resmungou Jim.
No entanto, o problema é que não tinha. Não tinha absolutamente nada para fazer sem a
mulher. Ela encarregara-se de tudo por ele, organizara a vida social de ambos e planeara
tudo. Jane mantivera a vida interessante para o marido, como idas à cidade para irem aos
concertos, ao teatro e ao ballet. Nenhuma das filhas era capaz de imaginar o pai a fazer
tudo aquilo sozinho. Jim fora completamente mimado pela mulher. E em resultado disso,
tornara-se dependente dela.
— Vai ter de ir à cidade algumas vezes para jantar connosco, pai.
Sabrina lembrou-o sobre a casa que iriam ver no dia seguinte.
— Parece ser amorosa.
— Pode ser, ou então pode ser um horror. Tu sabes como são os consultores imobiliários.
Mentem com quantos dentes têm na boca e possuem um gosto pavoroso.
O pai assentiu com um aceno de cabeça, pensando de repente como iria ficar solitário
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1