Danielle Steel - As Irmãs PT

(Carla ScalaEjcveS) #1

telefonista. E num gesto mais tresloucado, arranjei outro emprego numa linha de ajuda
para pessoas com tendências suicidas. Gostei imenso e foi isso que me conduziu à
psiquiatria. Voltei para a faculdade e estudei psiquiatria. E o resto é história, como se
costuma dizer. Conheci o meu marido quando voltei a estudar, ele era um jovem
professor na Faculdade de Medicina. Casámos e temos quatro filhos. Por norma, não
costumo falar de mim assim desta forma. Estou aqui para falar sobre si, Annie e não sobre
mim. Todavia, pensei que pudesse ajudá-la se soubesse o que me aconteceu. Um
condutor embriagado veio embater no meu carro, no acidente. Foi preso por dois anos. E
eu fiquei cega para o resto da minha vida. Mas, na verdade, se quisermos ver por esse
prisma, talvez tenha sido uma bênção. Acabei por descobrir uma especialidade que adoro,
casei com um homem maravilhoso e tenho quatro filhos lindos e fantásticos.
— Como pode fazer tudo isso sendo cega? — perguntou Annie, que estava fascinada com
a médica.
No entanto, não conseguia imaginar nada daquilo a acontecer-lhe a ela. Pelo menos, não
as coisas boas. Annie sentia-se amaldiçoada.
— Vai aprender. Acabará por desenvolver outras capacidades. Vai estatelar-se no chão
algumas vezes como acontece a toda a gente, cega ou não. Vai cometer erros. Por vezes,
irá esforçar-se mais do que as outras pessoas. Vai ter desilusões e desgostos tal como as
pessoas que podem ver. Ao fim e ao cabo, não é muito diferente. Vai fazer o que tiver de
fazer. Porque não falamos um pouco sobre si? Como está a sentir-se neste momento?
— Assustada — respondeu Annie com uma voz de criança, ao mesmo tempo que as
lágrimas começavam a aflorar-lhe aos olhos. — Sinto saudades da minha mãe. Não paro
de pensar que deveria ter tentado salvá-la. A culpa é minha por ela ter morrido. Não
consegui agarrar no volante. Não tive tempo.
Annie tinha um ar angustiado enquanto ia falando.
— Não me parece que pudesse tê-lo feito. Li o relatório do acidente antes de vir para cá.
— Leu-o como? — perguntou-lhe Annie.
— Tive que transcrevê-lo para braille. É bastante fácil de fazer. Dactilografo todos os meus
relatórios em braille e a minha secretária volta a escrevê-los para as pessoas que vêem.
Conversaram durante mais de uma hora e depois a Dra. Steinberg deixou-a. Afirmou que
se Annie quisesse, voltaria outra vez.
— Gostaria muito — respondeu Annie em voz baixa. Annie sentia-se como uma criança de
novo, à mercê de toda a gente. Também contara à médica sobre o facto de Sabrina e
Candy quererem que ela fosse morar com elas numa casa nova que alugaram.
— E você quer o quê? — perguntou-lhe a Dra. Steinberg, e Annie respondeu que não
queria ser um fardo para as irmãs.
— Então não seja. Vá para a escola. Aprenda tudo o que precisa de saber para poder ser
independente.
— Acho que deve ter sido isso que a senhora fez.
— Foi, mas perdi muito tempo a sentir pena de mim mesma antes disso. Você não precisa
de fazer isso, Annie. Parece que tem uma óptima família. Eu também tinha. No entanto,
castiguei toda a gente durante muito tempo. Espero que não faça o mesmo. É uma perda
de tempo. Você vai voltar a apreciar a vida, se fizer o que precisa de ser feito. Pode fazer
quase tudo o que as pessoas que vêem fazem, excepto talvez ver filmes. Mas há tantas

Free download pdf