com a passagem dos anos, alguma delas quebrasse a tradição e deixasse de vir a casa
como sempre fizera. E assim que isso acontecesse, as coisas nunca mais seriam as
mesmas. Até ao momento, nenhuma das filhas casara nem tivera filhos, mas a mãe estava
bem ciente de que logo que isso acontecesse, tudo mudaria. Entretanto, até esse dia
chegar, saboreava o tempo que passava com elas e apreciava com prazer as visitas que
elas lhe faziam todos os anos. Sabia que era quase um milagre que as quatro filhas
viessem a casa três vezes por ano e conseguissem até arranjar tempo, entretanto, para
visitá-la sempre que possível.
Annie vinha a casa com menos frequência do que as outras, mas comparecia
religiosamente nas principais épocas festivas que celebravam em conjunto. Charlie estava
muito menos envolvido com os seus familiares e afirmava que não ia a casa, no Novo
México, para os ver há quase quatro anos. Annie não era capaz de imaginar estar tanto
tempo sem ver os pais ou as irmãs. A única coisa de que tinha pena em Florença era a
família estar tão longe de si.
Charlie levou-a de carro até ao aeroporto no dia seguinte. Iria ser uma longa viagem para
Annie. Iria de avião até Paris, faria uma escala de três horas no aeroporto e depois
apanharia o voo das quatro da tarde para Nova Iorque. Chegaria a Nova Iorque às seis
horas, hora local, e esperava chegar a casa pouco depois do jantar, por volta das nove
horas. Telefonara à sua irmã Tammy na semana anterior e ambas chegariam a casa com
uma diferença de meia hora uma da outra. Candy ia chegar mais cedo e Sabrina só teria
de ir de carro desde Nova Iorque, caso conseguisse arrastar-se para fora do escritório e, é
claro, que levaria consigo o seu cão horroroso. Annie era o único membro da família que
detestava cães. Os outros eram inseparáveis dos seus, com excepção de Candy quando
viajava em trabalho. No resto do tempo, trazia sempre consigo um yorkshire-terrier
minorca e absurdamente mimado, em geral vestido com camisolas de caxemira
cor-de-rosa e lacinhos. Annie não fora contaminada com os genes apreciadores de cães,
muito embora a mãe sempre se mostrasse feliz por tê-las em casa, com ou sem cães.
— Cuida bem de ti — disse-lhe Charlie em tom solene e depois deu-lhe um beijo
demorado e intenso. — Vou sentir saudades tuas.
Charlie estava com um ar trágico e abandonado quando Annie partiu.
— Eu também — respondeu Annie baixinho. Tinham feito amor durante horas na noite
anterior. — Eu telefono-te — prometeu ela.
Sempre que ficavam afastados, mantinham-se em contacto por telemóvel, nem que fosse
por algumas horas apenas. Charlie gostava de ficar em contacto estreito com a mulher
que amava e gostava de tê-la bem perto de si. Dissera-lhe uma vez que ela era mais
importante para ele do que a sua família. Annie não podia dizer o mesmo e não o teria
dito, mas não havia qualquer dúvida no seu espírito de que estava muito apaixonada por
Charlie. Pela primeira vez, sentia-se como se tivesse conhecido a sua alma gémea e talvez
mesmo um possível companheiro para a vida, muito embora não demonstrasse desejo de
casar nos próximos anos, e Charlie era da mesma opinião. Contudo, estavam a pensar em
viver juntos durante os últimos meses da estada dele em Florença e voltaram a falar sobre
o assunto na noite anterior. Annie andava a pensar em sugerir-lho quando regressasse.
Sabia que era o que ele queria e agora estava pronta para considerar essa hipótese. No
decurso dos últimos seis meses, haviam ficado muito próximos um do outro. As suas vidas
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1