Annie estava a aprender coisas bastante úteis na escola.
Sabrina incumbira-a da tarefa de alimentar os cães. A senhora Shibata era incapaz de
fazê-lo. Dava-lhes sempre coisas para comer que os fazia vomitar. Uma vez dera comida
para gatos a Beulah e esta andou no veterinário durante uma semana, o que lhes custou
uma fortuna. Além disso, a senhora Shibata continuava a pôr-lhes algas na comida às
escondidas, de vez em quando. Annie estava em casa mais tempo e chegava mais cedo da
escola do que as irmãs do trabalho, por isso Sabrina atribuiu-lhe essa tarefa. E Annie
sentiu-se afrontada.
— Não posso fazer isso. Seja como for, tu sabes que eu detesto cães!
— Não quero saber. Os nossos cães precisam de comer e mais ninguém tem tempo para
isso. Tu não tens nada para fazer quando chegas da escola, excepto ires à psiquiatra duas
vezes por semana. E a senhora Shibata acabará por pôr os cães realmente doentes, o que
vai custar-nos uma fortuna de veterinário. E tu não detestas os nossos cães. Além disso,
eles adoram-te, por isso dá-lhes de comer.
Annie ficou a deitar fumo pelo nariz de tão furiosa que estava e recusou-se a fazê-lo
durante a primeira semana. Aquele episódio transformara-se numa tremenda batalha
com a irmã mais velha. Mas, por fim, Annie aprendeu a utilizar o abre-latas eléctrico, a
medir a ração seca dos animais e a pô-la nas tigelas certas, que eram de tamanhos
diferentes. Annie dava-lhes a comida de muito má vontade quando chegava a casa,
mesmo com tiras de carnes frias para Juanita, que era muito niquenta com a comida e
virava o nariz às rações comerciais para cães que elas compravam. Fez-lhes arroz cozido
uma vez quando os cães vomitaram, depois da senhora Shibata lhes ter dado algas, de
novo, com um dos seus picles japoneses, como se fosse uma guloseima especial, o que
empestou a casa inteira. Tammy chamava-lhes os picles com mil anos. Cheiravam como se
tivessem estado a apodrecer durante anos e quase lhes mataram os cães.
— Não é tarefa minha dar de comer aos vossos cães — gritou Annie de mau humor. — Eu
não tenho cão, então porque tenho de ser eu a fazer isto?
— Porque eu mandei — respondeu Sabrina, por fim. Tammy disse-lhe que achava que ela
estava a ser um pouco dura.
— A questão é essa mesma — confessou Sabrina. — Não podemos tratá-la como uma
inválida. Penso que Annie também deve executar outras tarefas.
Sabrina mandou a irmã pôr umas cartas no marco do correio o mais depressa possível e
pediu-lhe que fosse buscar umas coisas à lavandaria, que se situava ao fundo da rua,
porque chegava a casa antes que a loja fechasse e as outras não.
— Afinal eu tenho cara de quê? De moço de fretes? De que terá morrido a vossa última
escrava? — resmungou Annie furiosa com Sabrina.
Aquela era uma batalha contínua entre as duas, em que Sabrina lhe pedia
constantemente para fazer recados, para ir buscar coisas à loja de ferragens, para lhe
comprar um secador novo quando o seu avariou. A sua missão era tornar Annie
independente e esta era a melhor maneira de fazê-lo, ainda que, por vezes, também lhe
parecesse cruel. Chegou mesmo a protestar quando Annie entornou a comida dos cães na
despensa, deixando tudo num caos e mandou-a limpar toda aquela porcaria antes que
lhes aparecessem ratos ou ratazanas em casa. Annie desatara a chorar por causa disso e
ficou sem falar com Sabrina durante dois dias, mas estava a ficar cada vez mais
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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