soubesse. Vai daí, ele diz-lhe aquilo e ela parte-lhe o nariz. Vá lá uma pessoa perceber —
comentou Désirée, com uma expressão confusa. — Espero que consigam limpar o sangue
todo do vestido.
Désirée tinha uma cláusula no seu contrato que lhe permitia ficar com o guarda-roupa que
usava no programa. Não admirava que agora quisesse que Oscar de la Renta lhe
desenhasse a roupa. Tammy também gostaria de ter um guarda-roupa. Ao invés, ia
trabalhar de blusas, de jeans e ténis na maioria das vezes. Precisava de sentir-se livre para
se deslocar à vontade por todo o lado e o programa implicava imenso movimento.
— Pois é, vá-se lá perceber — concordou Tammy, pensando para dentro que a psicóloga
era maluca.
Mas, apesar disso, angariara mais dois patrocinadores nas duas semanas seguintes. As
audiências do programa dispararam para as alturas, o que era constrangedor, e a revista
Variety atribuía esse sucesso todo a Tammy, o que era ainda pior. Estivera esperançada
em manter-se discreta neste programa, mas não era isso que estava a acontecer. Os seus
antigos amigos de LA já haviam começado a telefonar-lhe a gozar imenso com ela por
causa do trabalho que estava a fazer em Nova Iorque.
— Pensei que tinhas regressado para cuidares da tua irmã — disse-lhe um deles.
- — E foi mesmo. -— Então, o que aconteceu?
- — Ela agora frequenta uma escola para cegos e eu aborrecia-me de morte.
— Bem, é mais do que certo que não te aborreces nada com este programa.
— Não, o mais provável é que ainda vá parar à cadeia.
— Duvido muito. O mais certo é que ainda vais acabar um dia por mandar na estação
televisiva inteira. Mal posso esperar.
Pior ainda, o programa Entertainment Tonight convidou-a para dar uma entrevista, pouco
tempo depois do episódio daquele marido ter apontado a arma ao apresentador, e Irving
fazia questão que ela comparecesse. Tammy tentou ser breve e digna, o que não foi pêra
doce. E ainda por cima, no dia seguinte, o apresentador convidou-a para sair. Tinha
cinquenta e cinco anos, era divorciado por quatro vezes, tinha coroas nos dentes do
tamanho de chicletes e possuía no cabelo uma trancinha pavorosa que fizera no México.
Fora um actor menor de telenovelas na sua juventude e fazia culturismo. Visto ao longe,
tinha um aspecto mais ou menos decente, mas de perto era pavoroso. Além disso, era um
fanático religioso, coisa que era um pouco intensa de mais para o gosto dela. Tammy
preferia a sua espiritualidade em doses mais pequenas, mas ele oferecia-lhe com
regularidade panfletos religiosos sobre a salvação espiritual. Talvez precisasse daquilo
para ser capaz de enfrentar o risco diário de levar um tiro.
— Eu... hem... é amoroso da tua parte, Ed... mas tenho um lema de nunca me envolver
com os homens dos programas em que trabalho. É uma chatice quando as coisas dão para
o torto.
— E porque iram dar para o torto? Sou um óptimo sujeito — declarou ele, exibindo-lhe o
seu sorriso mais radioso.
Ed tinha sete filhos das suas quatro ex-mulheres e sustentava todos eles, o que só
abonava a seu favor, mas, em resultado disso, tinha um carro com vinte anos e vivia num
quarto andar sem elevador na zona de West Side. Ter sido alvejado melhorara a sua
situação financeira de forma considerável. Declarou que iria mudar-se para um bairro