faz-nos crescer muito depressa quando não há ninguém entre nós e o Além.
— Nunca tinha pensado no assunto dessa maneira — respondeu Annie, pensativa. — Mas
talvez tenha razão. Ainda tenho o meu pai.
Nesse momento chegaram à sala de aulas. Annie tinha braille nessa manhã e práticas de
cozinha da parte da tarde. Estava planeado fazerem rolo de carne, coisa que Annie odiava,
mas Baxter estava na mesma turma e sempre se divertiam a fazer palhaçadas. Annie já
sabia fazer queques e frango na perfeição. Já cozinhara as duas coisas em casa para saber
a opinião das irmãs e elas gostaram.
— Obrigada pelos jeans. Amanhã devolvo-os.
— Quando quiser — respondeu Brad com amabilidade. — Tenha um bom dia, Annie.
E depois acrescentou.
— Porte-se bem no recreio.
Annie riu-se. Brad tinha uma grande vantagem sobre si. Podia ver como ela era e Annie
não podia vê-lo. Mas ele tinha uma voz agradável e simpática.
Annie deslizou para o seu lugar na aula de braille e Baxter meteu-se com ela de forma
impiedosa.
— Quer dizer então que agora o director da escola também te leva os livros, hem?
— Oh, cala-te — disse Annie, sufocando uma gargalhada. — Foi levar-me ao vestiário para
vestir uns jeans secos.
— E ele ajudou-te a vesti-los?
— Queres parar com isso? Não. Enrolou a bainha para cima.
Baxter suspirou baixinho e continuou a gozar com Annie sobre o caso o resto da manhã.
— A propósito, ouvi dizer que ele é giro.
— Acho que ele deve ser velho — respondeu Annie em tom prosaico.
Brad Parker não estava a atirar-se a ela. Limitara-se a ser prestável e a agir como director
da escola.
— Além do mais, não te vi a ajudares-me a levantar do chão quando caí no gelo.
— Não posso — respondeu Baxter com simplicidade. — Também sou cego, minha parva.
— E não me chames parva!
Pareciam duas crianças de doze anos. O professor mandou-os calar e pouco depois, Baxter
acrescentou:
— Acho que ele tem trinta e oito ou trinta e nove anos.
—- Quem? — perguntou Annie, concentrada no seu trabalho de casa em braille. Ficou
furiosa ao descobrir que errara quase metade do trabalho. Era mais difícil do que julgara.
— O senhor Parker. Penso que ele tem trinta e nove anos.
— Como é que sabes? — perguntou Annie, parecendo surpreendida.
— Eu sei tudo. É divorciado e não tem filhos.
— E depois? Que queres dizer com isso?
— Talvez ele esteja a atirar-se. Não podes vê-lo. Mas ele pode ver-te. E já houve três
pessoas que me contaram que és giríssima.
— Estão a mentir-te. Tenho três cabeças e duplo queixo em cada uma. E não, ele não
estava a atirar-se a mim. Estava só a ser simpático.
—- Essa coisa de simpatia entre um homem e uma mulher não existe. Há os que estão
interessados e os que não estão interessados. Talvez ele esteja.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1