— Não me interessa se está ou não — declarou Annie de forma prática. — Trinta e nove
anos é demasiado velho. Eu só tenho vinte e seis.
— Pois, é verdade — respondeu Baxter em tom prosaico. — Tens razão, ele é demasiado
velho.
E dito isto, voltaram ambos ao trabalho, esforçando-se por dominarem o braille.
Quando Annie voltou para casa, depois das aulas nessa tarde, as suas duas irmãs mais
velhas ainda não haviam regressado, nem tão-pouco Candy. E a senhora Shibata estava
prestes a ir-se embora. Annie deu de comer aos cães e começou a fazer os seus trabalhos
de casa. Ainda estava a trabalhar quando Tammy chegou a casa, por volta das sete horas.
Soltou um profundo suspiro ao entrar, tirou as botas e disse que estava exausta quando
reparou em Annie e lhe perguntou como tinha sido o dia dela.
— Foi tudo bem.
Annie não contou a Tammy que tinha caído. Não queria que as irmãs se preocupassem,
elas ficavam nervosas com coisas como esta, sempre preocupadas com medo de que
Annie batesse com a cabeça. Depois da cirurgia ao cérebro a que fora submetida cinco
meses antes, isso não seria muito bom. Mas só batera com o rabo no chão. Sabrina
chegou meia hora depois e perguntou a todas se tinham visto Candy. Telefonara-lhe para
o telemóvel várias vezes nessa tarde e de todas as vezes as chamadas foram parar à caixa
do correio.
— Deve estar a trabalhar — afirmou Tammy em tom prático, ao mesmo tempo que
começava a fazer o jantar.
Afinal de contas, Candy já não era uma criança, ainda que a tratassem como tal, e, além
disso, a irmã tinha uma carreira importante.
— Ela contou-te o que ia fazer hoje? — perguntou Sabrina a Annie e esta abanou
negativamente com a cabeça, mas de repente lembrou-se.
— Ia fazer uma espécie de sessão fotográfica qualquer para um anúncio esta tarde. Disse
que vinha a casa esta manhã para buscar o seu portefólio e a tralha toda.
Candy costumava levar consigo um saco cheio de cosméticos, produtos de maquilhagem e
várias outras coisas quando ia trabalhar.
— E veio? — perguntou Sabrina, mas Annie recordou-lhe que estivera na escola, por isso
não sabia.
— Vou ver — declarou Sabrina e voou pelas escadas acima até ao quarto de Candy.
O portefólio e o saco de trabalho, um malão Hermes em pele de crocodilo de cor
vermelho-escura, ainda ali estavam. Por vezes, Candy transportava Zoe naquele malão
também. Mas Zoe estivera em casa o dia inteiro com as outras cadelas. Sabrina teve uma
estranha sensação ao ver o portefólio e o saco da irmã no quarto. Perguntou-se se não
deveria telefonar para a agência de Candy para saber se ela tinha aparecido para
trabalhar, mas não queria agir como um polícia. Candy ficaria furiosa se Sabrina fizesse
isso, mesmo que as suas intenções fossem as melhores possíveis, como eram de facto.
Sempre se preocupava com a irmã mais nova.
— Então? — perguntou Tammy quando Sabrina desceu e entrou na cozinha.
Estavam todas no andar de baixo nessa altura, excepto Candy, que ainda não aparecera.
— As coisas dela estão todas lá em cima — respondeu Sabrina, com uma expressão
preocupada no olhar.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1