partir e tinha de ir para o aeroporto à uma hora para apanhar o avião das três horas para
Nova Iorque. Era impossível explicar à sua família como era a sua vida quotidiana e o tipo
de pressão a que estava sujeita para manter o programa no topo das audiências. Depois
de tomar a sua terceira chávena de café, voltou a entrar no gabinete, lançando um olhar à
sua minúscula cadela que dormia a sono solto debaixo da secretária. Juanita levantou a
cabeça, piscou os olhos, voltou-se para o outro lado e voltou a adormecer.
Tammy tinha Juanita desde a faculdade e levava-a consigo para todo o lado. Era cor de
canela e tremia quando não usava uma camisola de caxemira. Quando Tammy saía do
gabinete para resolver algum assunto ou para ir almoçar, enfiava Juanita na sua mala.
Trazia uma mala Birkin da Hermes, que era perfeita para transportar a sua pequena
amiga.
— Olá, Juanie. Como estás tu, querida?
A cadelinha gemeu baixinho e voltou a dormir debaixo da secretária. As pessoas que
entravam com frequência no gabinete de Tammy sabiam que deviam ter cuidado com o
sítio onde punham os pés. Se acontecesse alguma coisa com a Juanita, Tammy morreria.
Era ligada à cadela de uma forma pouco natural, como já a mãe havia comentado por mais
de uma vez. Ela era uma substituta para tudo o que Tammy não tinha na vida: um homem,
filhos, amigas com quem sair, o convívio diário com as irmãs desde que haviam todas
saído de casa. Juanita parecia ser a única destinatária de todo o amor de Tammy. Uma vez
Juanita perdeu-se no edifício e toda a gente se uniu para procurá-la, enquanto Tammy
chorava descontrolada, chegando mesmo a correr para a rua à procura dela. Foram dar
com ela a dormir profundamente ao lado de um radiador no estúdio do programa. Juanita
era agora famosa em todo o edifício, assim como Tammy, devido ao enorme sucesso com
o programa e à sua obsessão pela cadela.
Tammy era uma mulher de uma beleza deslumbrante, com uma farta e longa cabeleira
ruiva encaracolada, que era de tal maneira abundante e exuberante que as pessoas a
acusavam às vezes de usar uma peruca, mas todo aquele cabelo era dela. Era da mesma
cor do da mãe, um intenso vermelho de fogo; possuía olhos verdes e uma série de sardas
ao longo do nariz e das faces, o que lhe dava um ar atrevido e jovial. Era a mais baixa de
todas as irmãs, com um corpo de menina e um encanto irresistível, quando não se
encontrava a correr em várias direcções em simultâneo, ou quando não ficava uma pilha
de nervos por causa do seu programa. Sair do escritório e entrar num avião era quase
como cortar um cordão umbilical, mas ela sempre ia a casa no feriado do Quatro de Julho
para estar com as irmãs e com os pais. Era também uma época agradável do ano, com os
actores de férias.
O Dia de Acção de Graças e o Natal eram alturas mais difíceis para Tammy, uma vez que se
estava a meio da temporada, altura em que as batalhas pelas audiências se encontravam
sempre ao rubro. No entanto, também ia a casa nessas alturas, desse por onde desse.
Levava dois telemóveis consigo, além do seu computador portátil. Recebia e-mails no seu
BlackBerry e mantinha-se em constante comunicação com o seu pessoal, para onde quer
que fosse. Tammy era a profissional completa, o arquétipo de uma mulher executiva do
meio televisivo. Os seus pais sentiam orgulho dela, mas mostravam-se preocupados em
relação à sua saúde. Era impossível sentir mais stresse do que ela, ter mais
responsabilidades pesando-lhe sobre os ombros, sem acabar por vir a ter problemas de
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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