Danielle Steel - As Irmãs PT

(Carla ScalaEjcveS) #1

começar a reduzir a sedação no dia seguinte. Sabrina e Tammy estavam a pensar voltar ao
hospital para vê-la, mas tinham muitas coisas para tratar em primeiro lugar e era preciso
tomar todas as "providências". Tammy disse que sempre odiara aquela palavra e tudo o
que ela implicava e mais ainda nesse momento.
Dirigiram-se à agência funerária e voltaram dentro de duas horas. Trataram de todas as
coisas horríveis que era preciso tratar: escolher um caixão, as cerimónias fúnebres, os
cartões de agradecimento, a missa, um salão para "receberem as pessoas", onde os
amigos pudessem ir prestar as suas homenagens na noite anterior ao enterro. Não iria
haver "velório" propriamente dito, porque o caixão estaria fechado, nem rezariam o terço,
porque a mãe era católica, mas não praticante. As raparigas decidiram manter as coisas o
mais simples possível, e o pai ficara tremendamente aliviado em deixá-las tomar todas as
decisões. Não suportava a ideia de ter de ser ele mesmo a fazer tudo isso. Estavam as
duas pálidas e cansadas quando regressaram. Nessa altura, o pai e Candy já estavam à
mesa da cozinha. Chris estava a preparar a mesma refeição reconfortante e nutritiva que
fizera para elas e chegou mesmo a insistir com Candy para que ela comesse. Para grande
espanto de todos, o pai comeu tudo até limpar o prato e, pela primeira vez em vinte e
quatro horas, não estava a chorar.
Sabrina e Tammy concordaram que tinham de lhes contar sobre Annie nesse momento.
Eles tinham o direito de saber. Sabrina começou a contar-lhes depois do pequeno-almoço
e constatou que não era capaz. Voltou costas e Tammy tomou o seu lugar e explicou tudo
o que o oftalmologista lhes contara na noite anterior. O principal era que Annie estava
cega. Verificou-se um pesado silêncio na cozinha, depois de Tammy dizer aquilo, e o pai
olhou para ela como se não acreditasse nela ou como se não tivesse ouvido bem.
— Isso é ridículo — exclamou o pai com ar zangado. — Esse homem não sabe o que está a
dizer. Ele sabe que Annie é uma artista?
As raparigas tiveram a mesma reacção, por isso não poderiam culpá-lo. Mas isso não
mudava nada. Toda aquela situação iria ser para todos eles uma enorme adaptação, mas
nada se comparava ao que seria para Annie. Seria catastrófico, uma tragédia
incomensurável. Contar-lhe iria ser o pior momento das suas vidas, para além da morte da
mãe, e viver com isso seria dos piores momentos da vida de Annie para sempre. Essa era a
parte mais difícil. Dois conceitos impossíveis para qualquer um deles interiorizar, em
especial no que respeitava a Annie. Cega. Para sempre. Sentiam-se atormentados e
sofriam só de pensar no assunto. A única coisa mais grave era a mãe ter partido para
sempre.
— Estás a querer dizer que ela vai ter de andar de bengala e tudo? — perguntou Candy,
olhando aturdida para a irmã, parecendo ter de novo cinco anos de idade.
Candy parecia ter retornado à adolescência ou à infância desde a véspera, quando a mãe
morreu. Por outro lado, a contrastar, as duas irmãs mais velhas sentiam-se como se
tivessem quatro mil anos.
— Sim. Talvez. Algo do género — respondeu Sabrina, sentindo-se exausta.
Já haviam dado o seu quinhão de más notícias para o resto da vida. Chris esticou o braço e
afagou-lhe a mão.
— Talvez ela precise de um cão-guia, ou de um acompanhante. Não sei ainda como as
coisas se processam.

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