— Em termos de capacidade cerebral, acho que sim. Tão bem como seria de esperar após
uma cirurgia ao cérebro.
— E o resto? — perguntou Chris em voz baixa, olhando-a bem nos olhos.
Sabrina sentou-se na cama e suspirou. Já não tinha mais lágrimas para chorar. Estava
completamente exausta e sentia-se muito grata por Annie ainda estar viva e esperava que
assim pudesse continuar. Estava com dores de cabeça por ter chorado o dia inteiro.
— Ela está cega. Não conseguem resolver a situação nem há nada que possam fazer a esse
respeito. Se sobreviver, ficará cega para sempre.
Não havia mais nada que pudesse dizer. Sabrina limitou-se a olhar para Chris, cheia de
pena de Annie. Tudo aquilo lhe parecia incompreensível e desmedido. Não era capaz de
imaginar nenhum tipo de vida para Annie sem poder ver, nem o que iria acontecer-lhe
agora. Uma artista cega? Até que ponto seria cruel?
— Meu Deus... o que se vai fazer agora? Acho que é uma bênção ela estar viva, mas Annie
pode não ver as coisas dessa maneira.
Chris parecia estar a sentir-se tão arrasado como Sabrina.
— Eu sei. E isso assusta-me. Annie vai precisar de muito apoio.
Chris assentiu com um aceno de cabeça. Ia ser um grande problema.
— Quando tencionas contar ao teu pai e à Candy?
— Amanhã. Já não conseguíamos suportar dar outra má notícia esta noite. Seria
demasiado para todos nós — respondeu Sabrina com tristeza.
Ainda nem sequer tinham tido tempo para chorar convenientemente a morte da mãe,
porque estavam demasiado preocupadas com Annie. Mas talvez, à sua maneira, isso fosse
uma bênção.
— Mas, seja como for, tu sabes, pobre querida — disse Chris referindo-se aos olhos de
Annie. Em seguida, tomou Sabrina nos seus braços e abraçou-a.
Chris meteu-a na cama como se ela fosse uma criança e era disso mesmo que Sabrina
precisava. Era como se ela e Tammy se tivessem tornado mães de um dia para o outro. A
mãe morrera, o pai estava devastado e a irmã delas estava cega. E ela e Tammy
carregavam todo aquele fardo nos seus ombros. Num único momento e num acaso do
destino, toda a sua família fora aniquilada e nunca mais as coisas seriam como antes.
Acima de tudo para Annie, caso ela sobrevivesse e disso também ainda não havia certezas.
Nada era como antes.
Sabrina adormeceu nos braços de Chris e nunca se sentira tão grata a nenhum outro ser
humano na sua vida, excepto a sua mãe. Contudo, Chris vinha logo a seguir em termos de
importância. Embalou-a e confortou-a durante toda a noite. Sabrina sabia que nunca o
esqueceria e ser-lhe-ia grata para sempre.
Ela, Chris e Tammy levantaram-se cedo na manhã seguinte. Chris preparou o
pequeno-almoço enquanto as raparigas tomavam duche e se aprontavam para ir até à
agência funerária. Candy e o pai ainda estavam a dormir. Chris cuidou dos cães e estava à
espera delas à mesa do pequeno-almoço com ovos mexidos, bacon e muffins ingleses.
Disse-lhes que tinham de comer alguma coisa para manterem as forças. Sabrina
telefonara para o hospital assim que se levantou e de lá disseram-lhe que Annie passara
bem a noite e estava bem, embora continuasse ainda fortemente sedada para não ter que
se mexer muito nem sacudir o cérebro tão pouco tempo depois da operação. Iam
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1