Danielle Steel - As Irmãs PT

(Carla ScalaEjcveS) #1

prematuro e definitivo do rapaz. Annie tinha o direito de ser ela a correr com ele, ou não,
se o não quisesse fazer. Precisava dele mais do que nunca nesse momento. Além disso,
não cabia a Sabrina dizer a Charlie como sentir, nem como comportar-se numa situação
como aquela.
— Estou a ligar-lhe, porque a minha irmã tem a leve impressão de que está apaixonado
por ela. Pelo menos, ela está apaixonada por si. Annie sofreu um acidente horrível e quase
morreu ontem. A nossa mãe morreu. E em resultado do acidente, ficámos a saber a noite
passada que ela vai ficar cega para o resto da vida. Se a ama, calculei que quisesse saber.
Não faço a mínima ideia do que pretende fazer em relação a este assunto. Isso é consigo.
Pode mandar-lhe um cartão a desejar-lhe as melhoras, pode vir até cá visitá-la, pode
dar-lhe todo o seu apoio, ou pode voltar-lhe as costas, por achar que é de mais para si. A
escolha é sua e tenho a certeza de que não será fácil. Só achei que quisesse saber o que
estava a acontecer aqui. Annie vai ter de enfrentar problemas muito, muito sérios. E até
onde eu sei, você é muito importante para ela.
Charlie suspirou ao escutá-la, desejando nunca ter sabido de nada. Mas já sabia, graças a
Sabrina. E sabia também que mais cedo ou mais tarde, teria de tomar algumas decisões, o
que não era fácil para ele. Não tinha dinheiro, tirara um ano de licença sem vencimento
do seu emprego em Nova Iorque e estava empenhado em tornar-se um artista. Passara
bons momentos com Annie e achava que estava apaixonado por ela. Mas uma rapariga
cega, cujo talento e cuja carreira como artista tinham ido por água abaixo? Tudo aquilo
parecia ser demasiada areia para a sua camioneta. Um peso muito maior do que o que
tinha em mente, ou maior do que pensava ser capaz de carregar na sua vida. Charlie
decidiu ser honesto com Sabrina, já que ela também fora sincera consigo,
— Não sei o que lhe dizer.
— Não tem que me dizer nada. Eu só telefonei para avisá-lo. Calculei que gostasse de
saber, ou que pudesse ficar preocupado por não ter notícias de Annie.
— Na verdade, eu estava preocupado. Mas não tão preocupado assim. Não fazia ideia de
que uma coisa assim tão doida pudesse acontecer-lhe. Para ser sincero, Sabrina, não sei se
posso fazer isso, nem mesmo se quero. Ela é uma óptima rapariga e era uma artista
fantástica. Mas Annie vai precisar de muito carinho e apoio. É provável que fique
deprimida e desnorteada nos próximos anos, talvez mesmo para sempre. Esse é um fardo
demasiado pesado para eu carregar. Não sou capaz. Não quero ser um enfermeiro
psiquiátrico, nem tão-pouco um cão-guia para a cega. Mal dou conta da minha vida e
também não ia conseguir tomar conta dela. Não com uma situação tão grave como esta.
Não quero enganá-la e levá-la a pensar que vou estar ao seu lado neste momento.
Lamento muito. Mas acho que não sou pessoa para isso — disse Charlie, parecendo triste
quando o disse, mas foi surpreendentemente franco com Sabrina. — Penso que a Annie
vai precisar de uma pessoa muito mais forte e menos egoísta do que eu.
Sabrina estava inclinada a pensar que Charlie tinha razão. Ele conhecia-se bem e tinha a
coragem suficiente para dizê-lo. Era obrigada a reconhecê-lo, mas com alguma má
vontade. Sabrina esperava muito mais dele, e por tudo o que Annie contara, Sabrina
pensava que ele a amava. Afinal ficou-se a saber que não, ou pelo menos não o suficiente
para superar o que lhe acontecera.
— O que vai dizer-lhe? — perguntou Charlie, parecendo preocupado.

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