— Não lhe posso dizer nada ainda. Annie não está consciente. Mas se e quando ela o
estiver, o que quer que eu lhe diga, se é que quer que lhe diga alguma coisa? Não preciso
contar-lhe que lhe telefonei. Pode ligar-lhe e dizer-lhe o que quiser, quando ela estiver
melhor e em recuperação, apesar de que vai ser muito difícil para ela.
Sabrina receava, acima de qualquer coisa, o impacto que o facto de Charlie a abandonar
iria causar em Annie.
— Pois é — disse Charlie, pensando sobre o assunto durante um longo momento,
ponderando bem. — Talvez eu devesse escrever-lhe uma carta, ou dizer-lhe que conheci
outra pessoa. Isso vai fazer-me parecer um traste, o que acho que eu sou mesmo, mas
não será porque ela está cega, o que talvez a poupe um pouco.
A voz de Charlie soava optimista, como se tivesse encontrado uma solução que fosse boa
para ele, embora certamente o não fosse para Annie. Sabrina sentiu pena da irmã
enquanto o ouvia falar. Achou que Charlie era um traste egoísta e cobarde.
— Vai ser um golpe para ela, de qualquer das formas. Acho que Annie estava a considerar
a hipótese de se mudar para Nova Iorque por sua causa. E isso era algo de muito
importante para ela — respondeu Sabrina com tristeza.
— Para mim também era... até acontecer isto. Que raio de azar o dela.
Aquela foi a declaração do século.
— Não sei. Acho que vou escrever-lhe. Mando a carta para si e a Sabrina pode
entregar-lha quando achar que ela já está preparada.
A vontade de Sabrina era responder-lhe que nunca estaria.
— De qualquer das maneiras, ela vai descobrir, se nunca lhe telefonar nem aparecer.
— Pois é. É capaz. Talvez essa seja a melhor forma. Apenas desaparecer para sempre da
vida dela.
Sabrina não queria acreditar no que estava a ouvir. Charlie parecia aliviado.
— Isso não me parece muito nobre da sua parte — declarou Sabrina com franqueza.
Na verdade, pareceu-lhe bastante mesquinho. Uma saída deveras cobarde, mas já nada a
surpreendia. O Príncipe Encantado de Annie em Florença não passava de um limão azedo.
— Eu nunca disse que era nobre. Seja como for, na semana que vem vou para a Grécia.
Talvez lhe escreva depois de voltar e lhe diga que encontrei outra pessoa, ou reencontrei
uma paixão do passado.
— Tenho a certeza de que há-de ocorrer-lhe qualquer coisa. Obrigada pelo seu tempo —
disse Sabrina, desejosa por desligar.
Estava farta dele. Só lhe apetecia dar-lhe um soco num olho em nome da irmã. Talvez
mesmo dois socos em cada olho. Charlie merecia pior do que isso pelo que estava prestes
a fazer à irmã, fosse qual fosse o pretexto que ele arranjasse para se desculpar.
— Obrigado por ter ligado. Lamento não ser capaz de fazer melhor do que isto.
— Eu também — respondeu-lhe Sabrina — pelo bem de Annie. Além de que vai perder
uma das melhores mulheres que existem, cega ou não.
— Tenho a certeza de que Annie há-de encontrar outra pessoa.
— Obrigada — disse Sabrina e desligou o telefone na cara dele, antes que Charlie tivesse
ocasião de dizer mais uma palavra sequer.
Sabrina estava possessa quando desligou o telefone. Tammy e Chris já tinham percebido o
essencial.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1