21.
Coop
1961
O vento quente chacoalhava as folhas do palmeiral como se fossem pequenos
ossos secos. Três dias depois de desistir de Tate, Kya não levantou da cama.
Entorpecida pelo desespero e pelo calor, livrou-se das roupas e dos lençóis úmidos
de suor, sentindo a pele grudenta. Despachava os dedos dos pés em missões na
tentativa de encontrar pontos de frescor entre os lençóis, mas eles fracassavam.
Não reparou a hora em que a lua nasceu nem quando um jacurutu grande
mergulhou durante o dia para atacar um gaio azul. Da cama, ouvia o brejo lá fora
no movimento das asas dos melros, mas não saiu. Sofreu ao ouvir o canto choroso
das gaivotas chamando-a enquanto sobrevoavam a praia. Mas pela primeira vez na
vida não foi ao encontro delas. Torceu para que a dor de ignorá-las deslocasse o
rasgo em seu coração. Mas não.
Apática, perguntou-se o que tinha feito para mandar todas as pessoas embora.
A própria mãe. As irmãs. A família inteira. Jodie. E agora Tate. Suas lembranças
mais pungentes eram datas desconhecidas de parentes desaparecendo pela
estradinha afora. O último vislumbre de um cachecol branco flutuando por entre
as folhas. Uma pilha de meias largadas em um colchão no chão.
Tate, a vida e o amor tinham sido uma coisa só. Agora não havia mais Tate.
— Por quê, Tate, por quê? — balbuciou ela em meio aos lençóis. — Era para
você ter sido diferente. Era para você ter ficado. Você disse que me amava, mas
isso não existe. Não tem ninguém no mundo com quem a gente possa contar.
De algum lugar bem lá no fundo, ela prometeu a si mesma que nunca mais
confiaria ou amaria alguém.
Sempre encontrara força e coragem para se erguer da lama, para dar o passo
seguinte, por mais bambo que fosse. Mas aonde essa garra a tinha levado? Ela
acordava e caía em um sono leve.
De repente, o sol — pleno, claro e ofuscante — atingiu seu rosto. Nunca na
vida ela havia dormido até o meio-dia. Ouviu um farfalhar suave e, ao se erguer
sobre os cotovelos, viu um gavião-de-cooper do tamanho de um corvo do outro
lado da porta de tela, olhando para dentro. Pela primeira vez em dias, seu
interesse foi despertado. Ela se levantou ao mesmo tempo que o gavião alçou voo.