Um lugar bem longe daqui

(Carla ScalaEjcveS) #1

Ele se forçou a soar calmo.
— Começou um livro novo?
— Estou quase acabando o de cogumelos. Meu editor vai a Greenville no fim
de outubro e quer que eu encontre com ele lá. Mas ainda não sei...
— Você deveria ir. Seria bom encontrar com ele. Tem ônibus saindo de
Barkley todo dia, um à noite até. Não leva tanto tempo assim. Uma hora e vinte,
talvez, por aí.
— Não sei onde comprar a passagem.
— O motorista vai saber tudo. É só aparecer no ponto do ônibus na Main e
ele vai dizer o que você precisa fazer. Acho que Pulinho tem os horários pregados
na loja dele.
Tate quase comentou que tinha pegado muitas vezes esse mesmo ônibus de
Chapel Hill, mas achou melhor não lembrar essa época, quando ela ficara
esperando na praia em julho.
Os dois passaram um tempo sem dizer nada, bebericando o café e escutando
um par de gaviões assobiando junto às bordas de uma nuvem alta.
Ele hesitou em oferecer mais café, sabendo que ela iria embora se o fizesse.
Então lhe perguntou sobre o livro de cogumelos e explicou os protozoários que
estava estudando. Qualquer isca para mantê-la ali.
Começou a anoitecer enquanto um vento leve soprava. Ela tornou a largar a
caneca e disse:
— Preciso ir.
— Eu estava pensando em abrir um vinho. Quer um pouco?
— Não, obrigada.
— Espera um instantinho antes de você ir — disse Tate, descendo até a
cozinha do barco e voltando com um saco de pão e pães de minuto dormidos. —
Mande lembranças minhas para as gaivotas, por favor.
— Obrigada.
Ela desceu a escada.
Enquanto ela ia para seu barco, ele chamou:
— Esfriou, Kya. Você não quer um casaco ou algo assim?
— Não. Estou bem.
— Tome, leva pelo menos o meu gorro.
E ele lhe jogou um gorro de esqui vermelho. Ela o pegou e tacou de volta. Ele
tornou a jogá-lo, mais longe dessa vez; ela correu pelo banco de areia, inclinou-se
até perto do chão e o interceptou. Rindo, subiu no barco, ligou o motor e, ao
passar perto da embarcação dele, tornou a jogar o gorro lá dentro. Ele sorriu e ela
deu uma risadinha. Os dois então pararam de rir e ficaram apenas se olhando e
jogando o gorro para lá e para cá até Kya fazer a curva. Ela se sentou pesadamente
no banco da popa e tapou a boca com a mão.
— Não — falou em voz alta. — Eu não posso me apaixonar por ele outra vez.
Não vou me magoar de novo do mesmo jeito.
Tate continuou em pé na popa do barco. Cerrando os punhos ao imaginar
alguém batendo nela.
Kya margeou a costa até logo depois da arrebentação, seguindo para o sul. Por

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