Um lugar bem longe daqui

(Carla ScalaEjcveS) #1

— O Dr. Milton, seu advogado. — Um ruído de metal batendo em metal
soou, tlem, quando Jacob destrancou a porta da cela e lhe entregou o embrulho.
— E isto aqui é do Pulinho.
Ela pôs o embrulho em cima da cama e seguiu Jacob pelo corredor até uma
sala ainda menor do que a sua cela. Tom Milton se levantou da cadeira quando
ela entrou. Kya balançou a cabeça para ele, então olhou pela janela, onde uma
nuvem imensa de tempestade estufava as bochechas cor de pêssego.
— Boa tarde, Kya.
— Dr. Milton.
— Por favor, me chame de Tom, Kya. O que houve com seu braço? Você se
machucou?
Ela rapidamente cobriu com a mão os arranhões que tinha feito no próprio
braço.
— São só picadas de mosquito, eu acho.
— Vou falar com o xerife. Não deveria haver mosquitos aqui na sua... aqui no
seu quarto.
Com a cabeça baixa, ela falou:
— Não, por favor, não tem problema. Não estou preocupada com insetos.
— Está bem, claro, não vou fazer nada que você não quiser. Kya, vim
conversar sobre suas opções.
— Que opções?
— Vou explicar. É difícil saber a esta altura qual é a inclinação do júri. A
promotoria tem um bom caso. Não é sólido, de forma alguma, mas, considerando
como as pessoas aqui nesta cidade são preconceituosas, você precisa estar
preparada, porque não vai ser fácil nós ganharmos. Mas existe a opção de um
acordo. Sabe a que estou me referindo?
— Não exatamente.
— Você se declarou inocente de homicídio qualificado. Se nós perdermos,
você vai perder muito: prisão perpétua ou, como você sabe, vão tentar a pena de
morte. Sua alternativa é se declarar culpada de uma acusação mais branda, como
homicídio culposo, por exemplo. Se estiver disposta a dizer que sim, você foi à
torre naquela noite, encontrou Chase lá, vocês se desentenderam e num acidente
horrível ele deu um passo para trás e caiu pela grade. Assim pode ser que o
julgamento acabe na hora e você não precise passar por mais nada desse drama, e
pode ser que consigamos negociar uma sentença com a promotoria. Como você
nunca foi acusada de nada, provavelmente a condenariam a dez anos e você
poderia sair em seis, digamos. Sei que parece ruim, mas é melhor do que passar a
vida presa ou a outra coisa.
— Não, eu não vou dizer nada que sugira culpa. Não vou para a prisão.
— Kya, eu entendo, mas, por favor, pense um pouco. Você não vai querer
passar a vida inteira na cadeia, nem vai querer... a outra coisa.
Kya tornou a olhar pela janela.
— Não preciso pensar. Não vou ficar na cadeia.
— Bom, não precisamos decidir agora. Ainda temos tempo. Vamos ver como
as coisas se desenrolam. Antes de eu ir, tem alguma coisa sobre a qual quer

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