50.
O diário
1970
Quando foi conduzida até a sala do tribunal no dia seguinte, Kya olhou na
direção de Tate, Pulinho e Mabel e ficou sem ar ao ver um uniforme completo e
um sorrisinho num rosto marcado por uma cicatriz. Jodie. Balançou de leve a
cabeça, perguntando-se como ele descobriu sobre o julgamento. Provavelmente
pelo jornal de Atlanta. Baixou a cabeça, envergonhada.
Eric se levantou.
— Meritíssimo, se for do agrado desta corte, a promotoria gostaria de chamar a
Sra. Sam Andrews.
O recinto inteiro expirou quando Patti Love, a mãe enlutada, se encaminhou
até o banco das testemunhas. Ao observar a mulher que um dia quisera ter como
sogra, Kya se deu conta do absurdo da ideia. Mesmo naquele ambiente sóbrio,
Patti Love, usando a seda preta mais luxuosa, parecia muito ciosa da própria
aparência e importância. Sentou-se com as costas eretas, a bolsa lustrosa no colo e
o cabelo escuro preso num coque perfeito sob um chapéu inclinado no ângulo
exato, com um véu preto extravagante escondendo os olhos. Ela jamais teria
aceitado uma moradora descalça do brejo como nora.
— Sra. Andrews, sei que é difícil para a senhora, portanto vou ser o mais breve
possível. É verdade que seu filho Chase costumava usar um colar de couro com
uma concha pendurada?
— Sim, é verdade.
— Quando e com que frequência ele usava esse colar?
— O tempo todo. Ele nunca tirava. Durante quatro anos eu não o vi sem esse
colar.
Eric entregou um diário de couro à Sra. Andrews.
— Pode identificar este livro para o tribunal?
Kya fixou os olhos no chão e mordeu os lábios, furiosa com aquela invasão de
privacidade, enquanto o promotor erguia seu diário para o tribunal inteiro ver.
Ela o fizera para Chase, pouco depois de eles se conhecerem. Durante a maior
parte da vida, fora-lhe negado o prazer de dar presentes, uma privação que poucas
pessoas compreendiam. Após passar dias e noites fazendo o diário, ela o havia