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Kya não lembrava como se fazia para rezar. O importante era como posicionava
as mãos ou a força com que fechava os olhos?
— Quem sabe se eu rezar Ma e Jodie voltem para casa. Mesmo com todos os
gritos e toda a confusão, aquela vida era melhor do que este mingau encaroçado.
Ela cantava trechos errados de hinos religiosos — “e Ele caminha ao meu lado,
quando as rosas ainda estão úmidas de orvalho” —, tudo que conseguia recordar
da igrejinha branca onde Ma a levara algumas vezes. A última ida delas fora no
domingo de Páscoa antes de Ma ir embora, mas tudo que Kya se lembrava do
feriado eram gritos e sangue, alguém caindo, ela e Ma correndo, então deixou a
lembrança para lá de uma vez por todas.
Olhou por entre as árvores para a horta de milho e nabo de Ma, agora tomada
pelas ervas daninhas. Com certeza não havia rosas ali.
— Esqueça isso. Nenhum deus vai vir a este jardim.