Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

O táxi era um velho Skoda checo e ele indicou ao taxista a morada
pretendida, que correspondia a um mercado de flores a cinco ruas do verdadeiro
destino final, que era um pequeno apartamento ocupado por quatro fiéis do
Turquemenistão e da Somália. Uma casa segura. Era sempre melhor fazer a
abordagem derradeira a pé. Os taxistas lembravam-se de coisas, como toda a
gente. Alguns até tiravam apontamentos. Registos de quilometragem, consumo
de combustível, moradas. Não conhecia esses quatro tipos. Mas estavam à espera
dele. Kiev não era a mesma coisa que Hamburgo. Não podia entrar
simplesmente por ali. Tinha sido enviado um mensageiro. Antes do próprio
mensageiro. As precauções necessárias assim obrigavam.
Saiu do Skoda no mercado de flores. Avançou pelo meio de barracas
apinhadas de flores resplandecentes, entrando num corredor húmido cheio de
exemplares mais raros, e quando de lá saiu, na outra ponta, já trazia outra vez a
camisa cor-de-rosa e o boné e os óculos de sol tinham desaparecido.
Fez os últimos cinco quarteirões a pé e deu com o edifício certo. Era uma
torre de betão, baixa e larga, descentrada em relação a uma fila de edifícios mais
antigos e elegantes. Como um dente falso. Como se, há muito tempo, uma
bomba tivesse caído, aleatoriamente, e aberto um espaço. E talvez tivesse
mesmo. O átrio cheirava a amoníaco. O elevador andava, mas fazia barulhos
desagradáveis. Lá em cima, os corredores eram estreitos.
Bateu à porta e aguardou. Contou os segundos mentalmente. Já tinha batido a
uma série de portas. Sabia como aquilo funcionava. Um, ouvem-no a bater, dois,
levantam-se do sofá, três, abrem caminho pelo meio da confusão, quatro,
avançam para a porta, e cinco, abrem-na.
A porta abriu-se. Viu-se diante de um homem. Sozinho, com o silêncio por
trás.
O mensageiro disse:
— Estão à minha espera.
E o outro respondeu:
— Temos de sair.
— Quando?

Free download pdf