Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

corredor, dois tipos com quem tinha feito negócios no bar. Estavam sentados em
bancos. O mundo era pequeno. Estavam acompanhados por dois amigos, um
homem e uma mulher. E o homem trazia um blusão de ganga igualzinho ao dele.
O mundo afinal ainda era mais pequeno. Quais eram as probabilidades?
Atravessou uma praça pavimentada com seixos e parou numa agência de
câmbios. Trocou um punhado de marcos alemães e de dólares por pesos
argentinos. A seguir, fez a mesma coisa noutra agência, uma rua à frente, e
depois, noutra. Sempre notas usadas e amarrotadas, de diversos valores. Sempre
dinheiro vivo por dinheiro vivo. Nada de quantias enormes. Nada de memorável.
Nenhum registo.
Trocou o último maço na estação de comboio. Que, atualmente, era um sítio
triste. Havia sem-abrigo e gente perturbada um pouco por todo o lado. Havia
homens furtivos, com olhos que não paravam quietos e de mãos enterradas em
bolsos volumosos. Havia grafítis pintados com latas de spray nas paredes. Nada
que se comparasse a South Bronx, aos bairros degradados de Detroit ou a South
Central, em Los Angeles. Mas pouco habitual para a Alemanha. A reunificação
tinha constituído um esforço. Económica e socialmente. E mentalmente. Ele
assistira ao processo. Foi como viver uma vida confortável numa casinha
simpática com a família. E, de repente, uma série de familiares muda-se para lá.
De um sítio qualquer onde não sabem bem usar uma faca e um garfo. Gente
ignorante e atrofiada. Mas alemã à mesma. Como se um irmão tivesse sido
levado à nascença e trancado num armário. E depois, já com quarenta e tal anos,
sai de lá todo titubeante, pálido, curvado e a pestanejar. Uma situação difícil de
gerir.
Avaliou os pesos, segurando-os entre o indicador e o polegar, satisfeito.
Destinavam-se exclusivamente a despesas menores e nada mais. O banqueiro é
que se chegaria à frente, conforme combinado, por telegrama ou telex, ou lá que
outra maneira secreta tivessem para o fazer. O dinheiro era para gorjetas, táxis e
bagageiros no aeroporto. Só isso.
A seguir, roupa. Depois, uma farmácia. E depois, uma loja de ferragens, uma
de campismo e outra de brinquedos.

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