Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

não valia a pena travar, sobretudo quando havia literalmente batalhas mais
importantes no horizonte.
O folheto da feira comercial tinha sido concebido para se parecer com um
artigo de jornal, por um fabricante de uniformes a tecer loas a um novo padrão
de camuflagem urbano. Possivelmente, direcionado para o Departamento da
Defesa ou para as forças de intervenção policiais. A fotografia principal
aparentava ter sido tirada num estúdio interior gigantesco e incluía a mesma
equipa responsável pela bateria Chaparral do artigo do Army Times, bem como
o veículo, tanto num caso como no outro, aperaltados da mesma maneira,
homens e máquina idênticos, com um design que parecia ruído digital, feito de
retângulos minúsculos estampados, nas várias tonalidades de cinzento. As caras,
as mãos e as cabeças parcialmente lisas estavam pintadas da mesma forma, tal
como o camião e os próprios mísseis. Encontravam-se todos à frente de um
cenário artificial pintado, como num cenário de teatro, que representava uma
paisagem urbana destruída. Dessa vez, a câmara estava posicionada num ângulo
alto e diante deles, como o ponto de vista de um piloto a aproximar-se. Como se
um helicóptero de ataque estivesse a voar a baixa altitude e rente a eles, para
uma investida preventiva. E, nesse caso, a nova camuflagem estava a fazer um
ótimo trabalho. Os homens e a máquina deles mal eram visíveis. Fundiam-se no
que tinham por trás mais ou menos perfeitamente. Constituíam uma presença
fantasmagórica, estando ali e não estando ao mesmo tempo. Nenhum detalhe era
nítido. Até os próprios mísseis eram difíceis de distinguir. As moicanas eram a
única coisa evidente, numa fila de cinco, já que tudo o resto tinha sido pintado.
Impressionante. Só que o fabricante dera-se ao luxo de poder ser ele a desenhar
o chão do estúdio e o cenário à teatro, como muito bem lhe desse na veneta. O
que, neste caso, implicava uma correspondência exata com a camuflagem. O que
ajudava. O mundo real talvez fosse diferente.
Sinclair encostou a unha aos mísseis espectrais e meio escondidos,
perguntando:
— Estas coisas podiam ser roubadas e vendidas?
— Por cem milhões de dólares, não — respondeu Neagley. — E o problema

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