Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

disfarce a uma operação de falsa bandeira. Ou só pelo gozo. Ou então foram os
israelitas, com autorização vossa. O governo alemão descobriu e ficou irritado.
Vocês não quiserem admiti-lo nem falar do assunto, por isso, agora os serviços
secretos deles estão a aplicar um pouco de pressão à moda alemã,
supercivilizada. Estão a dizer, veem, nós também somos capazes. Estão a
perguntar, e que tal, gostam? Suponho que haja aqui um lado exibicionista, mas
porque não? É tudo muito discreto e, ao fim e ao cabo, inofensivo. Mas imagino
que perturbador.
— E porquê uma pessoa mais velha que já lá está há bastante tempo?
— Eles têm gente da embaixada que podia ter tratado disso, mas é sempre
bom poder negar uma coisa, por isso recorreram a um ativo local. E, nesse
aspeto, não há relacionamentos novos. Para a nova Alemanha, não. São tudo
sobreviventes históricos da antiga Alemanha de Leste. Um jovem funcionário
qualquer do governo americano, no tempo da Maria Cachucha, esperançado de
que houvesse uma revolução, a copiar documentos e a deixá-los debaixo de uma
pedra num parque. Depois compra uma casa e precisa de dinheiro, e a coisa vai
rolando, até que a nova Alemanha e os respetivos serviços secretos acabam por o
herdar. E agora tornou-se finalmente útil. Sabe onde você mora porque
entretanto passou para o departamento de viagens. Portanto, faz a tramoia com a
carta e entrega a nova à embaixada. E, se calhar, a do Ratcliffe também, mais as
de todas as outras pessoas com quem se possam estar a meter. E ficam todas
guardadinhas numa gaveta, ali à espera, até que a primeira dessas pessoas entre
na Alemanha. Ou seja, você, hoje de manhã. A Lufthansa cooperou, já que se
trata de uma companhia aérea do Estado. E você veio acompanhada no avião.
Um funcionário da embaixada alemã arranjou um bilhete à última hora e levou a
sua carta dentro de um envelope. E foi por isso que o homem da gabardina teve
de a seguir desde o aeroporto. Podia ter ficado aqui à espera, já que sabia para
onde você ia, por ter sido o departamento de viagens a reservar o seu quarto, mas
foi necessário ir ter primeiro com o avião, pois o funcionário da embaixada
precisava de lhe entregar o envelope. Até entrar aqui na cidade, a carta esteve
sempre uns dois passos atrás de si.

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